O Festival do Amor (“Rifkin’s Festival”)

Para os fãs de Woody Allen de “Um Dia de Chuva em Nova York” seu filme desse ano está imperdível. Para os demais, deve dividir opiniões.

O imperdível para fãs fica por conta de que esta obra é na verdade um diálogo dele consigo mesmo e explica o exato momento de vida pelo qual está passando. Tanto que ele é exatamente o protagonista sem sê-lo, já que tomou a decisão de não mais atuar e, portanto, colocou como alter ego o ator Wallace Shawn de “O Plano de Maggie”.

Shawn é Mort, judeu, novaiorquino, professor de cinema que quer ser um grande autor literário, mas estagnado em sua própria arrogância. Com seu casamento quase falido, vai com sua esposa Sue (Gina Gershon de “Não Vai Dar”) para um festival de cinema, pois ela é a assessora de imprensa do jovem e clamado diretor Phillippe (Louis Garrel de “Adoráveis Mulheres”).

Desconfiado que os dois tem um caso, Mort fica à parte de tudo, mas conhece a médica Dra. Jo (Elena Anaya de “Conexão Escobar”), mulher jovem, bonita, pela qual passa a se interessar, mas também com um casamento problemático. Tudo isso se passa enquanto ele tem sonhos emblemáticos sobre sua trajetória de vida.

É uma comédia simplista e tradicional em sua abordagem, mas onde Woody Allen discute temas pessoas e profissionais que o cercam, centrados na implacável finitude das coisas e na impossibilidade de já com idade avançada, mudar para agradar ou buscar a aprovação daquilo que agora é visto como arte.

Todas as alegorias do roteiro convergem a isso: sua esposa o trocando por alguém mais jovem que faz uma arte nova e aclamada em detrimento de grandes mestres como Bergman, Godard, Truffaut ou Fellini, ente outros. Além da impossibilidade de alcançar o novo (Jo) seja pelo contexto do que é a novidade, seja a resistência à mudança.

Muitos de seus sonhos são recriações inspiradas nos filmes dos mestres do cinema europeu que muita gente não se dará conta e talvez não contemple o filme como deveria. Destaque para a recriação de uma emblemática cena do clássico “O Sétimo Selo” de 1957 feito por Ingmar Bergman onde o protagonista joga xadrez com a Morte, aqui interpretada de forma muito bem humorada por Christoph Waltz de “007 – Sem Tempo Para Morrer”.

O Festival do Amor” faz rir, mas não deixa de ser melancólico. Em sua simplicidade não busca respostas para as grandes questões da vida, mas as coloca em cheque como se o tempo pudesse fazer com que essas perguntas mudem a todo momento, e ainda mostra a vida como um sopro na forma de uma análise terapêutica que, refletindo o próprio ser do diretor, inevitavelmente se expande para o espectador que tiver a mesma sensibilidade.

Curiosidades:

– O filme fala do Festival de Cinema de San Sebastian e sua premiere se deu no próprio festival em sua 68ª edição.
– As filmagens terminaram uma semana antes do previsto e todos os itens de produção e figurino foram leiloados e o lucro foi doado a uma ONG da Espanha.
– A cena da conversa com a Morte foi filmada na praia onde também se passou a cena na pedra do Dragão em Game of Thrones. Esse dia foi o mais quente naquele local nos últimos 50 anos (40°C) e o ator Christoph Waltz quase passa mal, pois sua fantasia era para todo o corpo e toda preta.
– A casa do pintor marido de Jo foi toda decorada com itens do pintor “de verdade”, o expressionista Juan Luis Goenaga.
– O poster do filme foi desenhado pelo famoso pintor de Barcelona, Jordi Labanda.

Ficha Técnica

Elenco:
Wallace Shawn
Gina Gershon
Louis Garrel
Christoph Waltz
Steve Guttenberg
Tammy Blanchard
Richard Kind
Nathalie Poza
Isabel García Lorca
Carmen Salta
Enrique Arce
Andrea Trepat
Elena Anaya
Douglas McGrath
Ben Temple
Sergi López
Georgina Amorós

Direção:
Woody Allen

Produção:
Erika Aronson
Letty Aronson
Jaume Roures

Fotografia:
Vittorio Storaro

Trilha Sonora:
Stephane Wrembel

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