Kick Ass – Quebrando Tudo (“Kick Ass”, EUA, 2010)

A cena chega a ser sentimentalista: pai e filha brincando num terreno baldio. Ele (Nicolas Cage de “Vício Frenético“) promete a ela (a atriz mirim Chloe Moretz de “500 Dias com Ela“) que se fizer o que o amoroso papai pede, eles vão tomar sorvete depois. De pronto ela concorda entusiasmada e é aí que ele aponta uma pesada arma e atira à queima-roupa na própria filha. Arremessada pra trás, poucos segundos depois ela confessa que adorou a experiência.

Não é assim que começa o filme, mas dá pra se ter uma vaga idéia do quão subversivo ele é, principalmente para o gênero super-herói, o qual costuma ser obrigatoriamente mais leve para o público. Antes, conhecemos o principal fio condutor da trama, Dave (Aaron Johnson), um adolescente comum até demais que começa a se questionar sobre ser herói de forma dentro de um contexto sociológico. Inseguro, ele compra uma fantasia (uma roupa de mergulho paramentada) e sai pelas ruas. Na primeira ocorrência, ele quase é linchado. E diga-se de passagem com uma violência gráfica absurda. Já na segunda tentativa, depois de recuperado, ele se dá relativamente bem, mas pouco depois desperta a ira de um mafioso local (o habitual bandido Mark Strong de “Robin Hood“) por engano.

O roteiro é genial em unir todos esses personagens em torno da própria cultura que o ser humano tem dos super-heróis e até mesmo super vilões. Mais do que isso, faz uma reflexão da própria necessidade do ser humano de se relacionar e dos artifícios que eles usam para tal, seja com nobres propósitos ou não.

Mas deixando filosofias de lado, é uma façanha que a produção consiga combinar tão bem uma narrativa amarrada e cenas de ação coreografadas e editadas a perfeição, seja quando Big Daddy (Cage) mata todos os bandidos num armazém, na visão de uma câmera de espionagem; seja quando Hit Girl (Moretz) faz um arriscado salvamento num galpão sem absolutamente nenhuma luz. Aliás, ela é sem dúvida o destaque do filme: é claramente uma criança (tem 13 anos na vida real), mas seu personagem é intenso e ela parece ter vivido todo aquele transtorno principalmente na improvável e beirando desesperadora relação com seu pai.

Como se não bastasse o diretor Matthew Vaughn (“Stardust – O Mistério da Estrela“) consegue matar todos os clichês com tomadas inusitadas e textos afiados, como naquele em que Dave narra em off que não é porque ele está narrando a história que ele vai terminar vivo e ainda cita nomes de filmes onde o personagem que narra está morre no final; ou então na hilária frase parodiando a célebre “Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades” do “Homem-Aranha“.

Kick Ass” tem uma combinação de ingredientes incomum que logra êxito em levar absolutamente todos os tipos de público a uma jornada incrível que com quase duas horas de duração, ainda acaba com gosto de se querer mais. É o melhor filme de super-herói do ano. Ou dos últimos anos ao lado de “Batman – O Cavaleiro das Trevas“.

[rating:5]


Ficha Técnica

Elenco:
Aaron Johnson
Nicolas Cage
Chloe Moretz
Christopher Mintz-Plasse
Mark Strong
Lyndsy Fonseca
Garrett M. Brown
Elizabeth McGovern
Clark Duke

Direção:
Matthew Vaughn

Produção:
Adam Bohling
Tarquin Pack
Brad Pitt
David Reid
Kris Thykier
Matthew Vaughn

Fotografia:
Ben Davis

Trilha Sonora:
Marius De Vries
Ilan Eshkeri
Henry Jackman
John Murphy

ELENCO

DIREÇÃO

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Respostas de 5

  1. Pesquisei no site e não encontrei o filme Zona Verde (Green Zone, Estados Unidos/Inglaterra, 2010). Achei o filme muito bom e penso que merece uma crítica sua Aldo se a fizer me avise que posto no meu Blog. Quase não tenho visto os filmes atuais, pois o Tempus fugit!
    Vi recentemente o filme A Film with Me in It (A Film with Me in It) 2008. Uma maravilha de humor negro.
    Um grande abraço!

  2. De tdas as dics comentadas, gostei dessa.
    Depois de assisti-lo postarei meu comentario.
    Valeu pela dica.

  3. Gostei bastante deste filme!

    A maneira como o filme inicia mostrando situações reais, o que de fato aconteceria com um adolescente que se transformasse em super-herói, me prendeu muito a atenção.
    Mas parece que isso muda ao longo do filme, o que não me agradou.

    Normalmente sou bem desatento, mas vi algo curioso no filme. Em certo momento, o Kick-Ass entra no carro do Red Mist, abrindo a porta de maneira convencional. Ao sair do carro (já em outra cena), a porta é aberta para cima (se não me engano, são as chamadas portas gaivotas).

  4. Subversivo e inovador. É assim que vejo kick ass. Partindo de uma premissa simples, um nerd se questionando por que ninguém teve a idéia de sair vestido de super-herói e ajudar outras pessoas, terminando com a questão filosófica do quanto a honra e a perda de um ente querido pode abalar uma mente e impactar na de outras. Um filme é bom quando não precisa de seus atores. Cage está novamente canastrão, depois de ter usado todos os seus trejeitos a seu favor em “vício frenético”, volta a fazer nada mais do que decorar e recitar suas falas, mesmo assim não compromete em nada a narrativa e cumpre o seu propósito de figurar como o nome conhecido desta produção. As vertentes da história são muito bem conduzidas pelas figuras principais do filme, o “herói” Aaron Johnson mais indignado com a apatia da sociedade diante da violência do que da sua própria condição de perdedor, o vilão profissinal Mark Strong e seu filho Christopher Mintz-Plasse que hilariamente tenta fazer parte dos negócios do pai, e a irrepreensível Chloe Moretz que dá um banho em todas as cenas que divide com Cage, tornando fino e transparente o fio que divide a admiração que tem por Big Daddy e o quão doentio é este tipo de criação. Nenhuma frase define melhor esta parte do que a dita pelo ex-parceiro de Daddy: Você deve uma infância a esta menina! Enfim até nos detalhes mais banais que poderiam destoar da narrativa, vê-se a preocupação de dar coerência aos obviamente inverossímeis fatos que se desenrola. Exemplo, a paixão de Kick Ass, como obviamente ele está na fase onde os hormônios explodem, nada mais plausível do que a cena em que transa com a namorada em um beco. Outra, é tão óbvio que o sustentáculo do pouco de sanidade que resta em Big Daddy é a menina, que justamente ele que prega a autopreservação de defesa em situações de risco, que abre totalmente sua guarda e mais ainda esquece tudo o que está fazendo, após ver sua filha atingida. Seria piegas e óbvio se ao invés de amparar a menina, o mesmo desferisse sua ira aos seus algozes. Enfim, Kick Ass é um novo tipo de abordagem aos filmes de heróis, merece um lugar na prateleira bem ao lado de “Watchman”, é filme pra fã de quadrinhos Graphic Novel.

  5. Eu demorei de assiste esse filme porque achava q seria um estilo Escola de Super Herois. Pela fantasia e pelo trailler eu nunca iria imaginar que seria um filme de adulto 18+. O filme sem dúvida eh o melhor de super heroi já feito. O filme/HQ só peca mesmo na falta de criatividade dos uniformes. Não tem como você não pensar em Batman ao ver o Big Daddy. Esperando ansioso pelo segundo.

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