Acho que quando o diretor Rian Johnson fez “Entre Facas e Segredos” jamais imaginou que seria um sucesso tão grande – aliás é um filmaço – que iria pedir uma continuação. Só que obviamente o único vínculo é o próprio detetive Bernoit Blanc que conquistou o público, interpretado pelo agora aposentado James Bond, Daniel Craig.
Se o filme tem uma trama independente, poderia ter um título independente, “Glass Onion” (Cebola de Vidro em tradução livre). Só que os estúdios queriam ter a certeza que o público soubesse que essa era uma continuação e então exigiram que o diretor colocasse o título do primeiro filme que no original é “Knives Out” (“Facas para Fora” em tradução livre”. Rian Johnson teve que se render muito a contragosto e colocou um título nada a ver “Glass Onion: A Knives Out Mistery”.
Chegamos então na tradução nacional que inexplicavelmente ao invés de matar a pau com o simples e óbvio “Entre Facas e Segredos 2”, colocou o horripilante título que mistura inglês com português e que não fala nada com nada. Mas seguimos porque a produção também é ótima.
Em plena pandemia, Blanc é atraído para uma ilha deserta do bilionário Miles (Edward Norton de “Crônica Francesa”) para investigar um possível assassinato. Chegando lá, quem diria, todos são suspeitos.
O roteiro tem êxito justamente por ter uma história simples que é propositalmente complexa de acordo com a abordagem narrativa, inclusive com o ótimo artifício de se mostrar uma cena mais de uma vez só que com pontos de vistas diferentes que conseguem revelar o que antes estava escondido e também através do duelo de narrativas onde o diretor manipula o espectador (de forma benéfica) ao mostrar o que foi contado ao invés do que aconteceu (que será mostrado depois).
Apesar do elenco não ter o mesmo calibre do antecessor – exceto por Craig – tem como seu maior destaque Janelle Monáe de “As Vidas de Glória” que está apaixonante como a personagem que podemos dizer que é análoga a que Ana de Armas interpretou em “Entre facas e Segredos”. Ainda assim, Norton está ótimo e todo mundo contribui um pouco em maio ou menor relevância. Finalmente Craig dá ao seu detetive uma presença de palco excelente, colocando definitivamente no protagonismo da saga com muito mais personalidade.
“Glass Onion” é uma ótima viagem do gênero “whodunnit” faz um leva e traz do espectador a diversos pontos da narrativa, mantendo a simplicidade de um roteiro divertido e acessível.
Curiosidades:
- O “Bong” do relógio da ilha é feito por Joseph Gordon-Levitt (“Os 7 de Chicago”) que está presente em 100% dos filmes de Rian Johnson.
- A pintura “Número 207” do artista chamado Rothko está pendurada de cabeça para baixo, como um modo do roteiro dizer que o bilionário Miles é um imbecil, já que ele nem notou.
- Há uma cena em que Blanc (Daniel Craig) diz “Eu não sou Batman”. A primeira idéia do roteiro era ele dizer “Eu não sou James Bond”, mas acharam que ia dar muito na cara. Ainda assim, algumas traduções para outros países colocaram a fala com James Bond na cara dura.
- Uma das na sala de Miles é o rosto dele (Edward Norton) no corpo de Brad Pitt para homenagear “O Clube da Luta”.
- No início, Blanc está numa vídeo conferência com quatro amigos. Dois desses artistas, Stephen Sondheim e Angela Lansbury faleceram pouco depois das filmagens.
- Glass Onion é uma música do The White Album dos Beatles. Quando os convidados chegam Miles toca no violão Blackbird desse mesmo álbum.
- Há uma cena em que Miles é acusado de ter um campo de distorção de realidade, exatamente a mesma coisa da qual Steve Jobs era acusado.
- Todo o assassinato é executado em tempo real em frente às câmeras e ninguém percebe porque depois as narrativas falam de forma diferente. Mas basta voltar o filme para perceber que sempre foi óbvio.
Ficha Técnica:
Elenco:
Daniel Craig
Edward Norton
Janelle Monáe
Kathryn Hahn
Leslie Odom Jr.
Kate Hudson
Dave Bautista
Jessica Henwick
Madelyn Cline
Noah Segan
Jackie Hoffman
Dallas Roberts
Ethan Hawke
Hugh Grant
Stephen Sondheim
Natasha Lyonne
Kareem Abdul-Jabbar
Serena Williams
Yo-Yo Ma
Joseph Gordon-Levitt
Direção:
Rian Johnson
História e Roteiro:
Rian Johnson
Produção:
Ram Bergman
Rian Johnson
Fotografia:
Steve Yedlin
Trilha Sonora:
Nathan Johnson
