Desde 2014 com “Mapas Para as Estrelas” que David Cronenberg não dirigia, mas mesmo assim, só agora ele volta a estar imerso no seu universo favorito, do gore, do sangue, das tripas, das esquisitices e das loucuras humanas. Só que ele se empolgou tanto que não soube o que fazer com a história.
É até difícil de formar uma sinopse curta, mas vamos lá: num futuro próximo alternativo, alguns seres humanos começam a sofrer mutações fazendo com que suas células criem órgãos que na maioria são desnecessários e indesejáveis. Inclusive há um órgão público especialista em catalogar essas anomalias, que denominam de uma evolução, mas para um lado não humano.
É aí que encontramos o sumido Viggo Mortensen de “Green Book: O Guia” como Saul que, junto com sua parceira Caprice (Léa Seydoux de “007 Sem Tempo Para Morrer”), performam um número peculiar para plateias obscuras: Caprice abre o corpo de Saul com uma máquina que só Cronenberg poderia conceber e retira esses tais órgãos desnecessários, onde há um misto de dor e prazer, sempre inerentes na obra do diretor.
Então há uma rica discussão entre deixar a evolução acontecer, mesmo que essa criação desenfreada de órgãos mate o próprio hospedeiro, ou retirá-los, seja pela saúde, seja para fins comerciais. Há também uma trama que envolve um assassinato e uma seita de pessoas que acreditam numa evolução de órgãos sintéticos.
É muita informação com um enfoque gráfico muito bom, efeitos especiais de maquiagem bastante adequados e chocantes, só que ao invés de seguir uma trama ou desenvolver a narrativa potencial que ela traz, o diretor parece apenas contemplar o conteúdo da complexa premissa sem ter uma direção certa.
Viggo Mortensen está sensacional no papel que oscila num eterno atormentado e doente a alguém que experimenta um prazer de toda a sua condição. Uma atuação que, sem dúvidas, mereceria indicações. Tem até uma Kristen Stewart de “Spencer” interpretando ela mesma como sempre, numa participação curta em que ela quase entra muda e sai calada.
No final, tudo se entende, inclusive o desfecho abrupto e subjetivo. Entretanto, claramente “Crimes do Futuro” perde o rumo da narrativa desde o princípio e força o espectador a apenas contemplar as esquisitices que Cronenberg gosta tanto de mostrar, o que não deixa de ser interessante, mas muito aquém do seu próprio potencial.
Curiosidades:
- O filme foi feito num grande galpão que abrigava todos os cenários.
- Viggo Mortensen sofreu um acidente numa exposição de cavalos quando um deles o atropelou e filmou ainda em recuperação. Por isso muitas de suas cenas longas ele faz agachado por causa do tratamento na sua coluna.
- Em 1970 David Cronenberg dirigiu um filme exatamente com o mesmo título desse, mas com uma história diferente.
Ficha Técnica:
Elenco:
Viggo Mortensen
Léa Seydoux
Scott Speedman
Kristen Stewart
Welket Bungué
Don McKellar
Yorgos Pirpassopoulos
Tanaya Beatty
Nadia Litz
Lihi Kornowski
Denise Capezza
Efi Kantza
Direção:
David Cronenberg
Produção:
Robert Lantos
Steve Solomos
Roteiro:
David Cronenberg
Fotografia:
Douglas Koch
Trilha Sonora:
Howard Shore