Basta ver o trailer para saber que Adonis Creed, aposentado, deve voltar aos rings e lutar com seu amigo de infância Damian, que é como se nesse multiverso, Kang fosse esse ex-presidiário cheio de ressentimento. Brincadeiras à parte é Jonathan Majors de “Homem Formiga 3”.
Dito isso, há uma cena no início do último ato onde Creed e sua esposa Bianca (Tessa Thompson de “Identidade”) conversam com um diálogo mais ou menos assim: “Então só tem um jeito de fazer ele parar” // “Isso aí, então lute com ele!”, sem nenhuma preocupação com a saúde de Adonis ou qualquer consequência advinda disso. Ou seja, uma imensa forçada de barra, como se isso fosse apenas um rich people’s problem, porque vida de rico é diferente, né?
Vamos dar um passo para trás: eu já havia dito que a série Creed, até a segunda parte, era tanto (ou mais) sobre Rocky Balboa quanto sobre o próprio protagonista e que eles se complementavam numa excelente passagem de bastão. Tanto que o final de “Creed II” é um belíssimo encerramento para Rock Balboa.
Em “Creed III” o produtor Irwin Winkler (dono de todos os direitos dos filmes de Rocky e do próprio personagem) não quis que Stallone voltasse, o que contrariou o intérprete de Rocky, porém parece ter sido uma decisão acertada, já que aquele ciclo havia se encerrado. Além disso, ainda fechou com Michael B. Jordan, o protagonista, para que ele fizesse sua estréia na direção, enquanto Ryan Coogler, diretor dos dois primeiros, assumiria o papel de co-produtor, enquanto também se dedicava a dirigir “Pantera Negra – Wakanda Forever”.
Até aí tudo bem, o problema é que filme de luta de box já tem vários e com as mais variadas tramas. Só que foram pegar uma das premissas mais batidas, a do passado perseguindo o personagem, fazendo com que ele saia da aposentadoria para resolver tudo no braço. Para se ter uma idéia do quanto essa premissa é usada, basta ver a franquia “Velozes e Furiosos”. Nem em toda saga de “Rocky”, esse tipo de história foi colocada em seu caminho.
Então o espectador vai engolindo essa, enquanto o roteiro ornamenta a história com pequenas tramas paralelas, como a filha pré adolescente deficiente auditiva, que talvez é a coisa mais fofa do filme e sempre rouba a cena, ou o dilema de seguir seus sonhos pelo qual Bianca passa. Isso porque o diretor quer emular o drama familiar que havia sido o grande cerne de qualquer ótimo filme de boxe (incluindo “Rocky”). Infelizmente a mão é pesada na hora de expor a trama principal que esses dramas pouco agregam à narrativa.
A técnica e estética do desenvolvimento da história é muito bem feita, as lutas muito bem coreografadas, até mesmo com algumas inovações onde Jordan foca em golpes errados que provocam uma ótima dinâmica entre os lutadores, mesmo que a luta pareça menos natural e mais coreografada. Ainda há uma bobagem na cena em que a luta parece se passar na cabeça de Adonis com elementos subjetivos surgindo na tela, mas isso é o de menos.
O desfecho repete um clichê tão forçado quanto aquele que faz Creed voltar a lutar, mas talvez agrade quem goste da mesma coisa ou aos desacostumados a filmes do gênero.
“Creed III” tem uma ótima produção, algumas novidades, mas na essência, busca na mesmice e nos clichês desenvolver a carreira solo do protagonista. E sem Rocky ficou ainda mais difícil.
Curiosidades:
- Na cena em que Adonis e Dame estão treinando para a luta, toca uma música em que uma parte da letra fala sobre Wakanda, sendo que Michael B. Jordan interpretou o vilão do primeiro “Pantera Negra”.
- No filme Adonis (Jordan) é dois anos mais novo que Dame (Majors). Na vida real é o inverso.
Ficha Técnica:
Elenco:
Michael B. Jordan
Tessa Thompson
Jonathan Majors
Wood Harris
Phylicia Rashad
Mila Davis-Kent
Jose Benavidez
Selenis Leyva
Florian Munteanu
Thaddeus J. Mixson
Spence Moore II
Tony Bellew
Direção:
Michael B. Jordan
História e Roteiro:
Keenan Coogler
Zach Baylin
Ryan Coogler
Keenan Coogler
Zach Baylin
Produção:
William Chartoff
Ryan Coogler
Jonathan Glickman
Michael B. Jordan
Elizabeth Raposo
Sylvester Stallone
Charles Winkler
David Winkler
Irwin Winkler
Fotografia:
Kramer Morgenthau
Trilha Sonora:
Joseph Shirley