Agora que já sabemos pra quem vai o Oscar de Melhor Ator, podemos passar para o próximo assunto.
Brincadeiras à parte, a DC finalmente fez o seu “Logan” e rivaliza com um de seus melhores filmes “O Cavaleiro das Trevas”. Isso se não for o melhor.
“Coringa” é um perturbador filme de como um ser humano desequilibrado responde a uma sociedade implacável que banaliza qualquer inteiração emocional e que, por acaso, também é o surgimento de um dos maiores vilões do universo dos super-heróis seja ele Marvel ou DC.
O sempre competente Joaquin Phoenix de “Maria Madalena” vive Arthur que tem sérios distúrbios mentais (um deles o faz rir copiosamente independente do que sinta), que faz tratamento e vive sozinho com a mãe em Gothan City. Ele tem o sonho de ser comediante e trabalha como palhaço. Ao passo em que a sociedade começa a hostilizá-lo, sua mente doentia passa a entender que devolver essa violência emocional em forma de caos pode ser a única saída para encontrar a sua verdadeira identidade.
Por mais épico que o Coringa pode parecer, o filme dirigido por Todd Phillips, que fez sua carreira em cima de grandes comédias como a franquia “Se Beber Não Case” e “Cães de Guerra”, não deixa de ser minimalista em sua essência. É basicamente um dos estudos de personagem mais profundos que qualquer drama pesado poderia mostrar e por isso não relevante, principalmente por mostrar uma sociedade que em muitos aspectos se parece com a nossa, apesar da história se passar em 1981.
A produção funciona perfeitamente em todos os níveis e aspectos: como nascimento de um super vilão, como uma crítica à sociedade, como um soberbo drama. O diretor e seu time conseguiram abraçar todos esses elementos e dar espaços igualitários para que nada se perca no meio do caminho.
Se a narrativa é intensa, Joaquin Phoenix liga seu personagem na intensidade máxima e é desde já um dos melhores, senão o melhor Coringa do cinema desde o saudoso Heath Ledger (do qual Phoenix era um amigo).
Phillips teve a coragem de desafiar a censura em cenas de violência explícita que alça o filme a um patamar quase que inédito entre adaptações de HQs de super heróis. Algumas das cenas são tão chocantes que devem sair junto do cinema com o espectador e ficar com ele durante um bom tempo. E, apesar de ser uma das inúmeras versões cinematográficas desse grande vilão, o roteiro consegue dar explicações plausíveis e surpreendentes para questões do tipo: a obsessão do protagonista com a família Wayne, de onde surgirão seus capangas, e até mesmo como funcionaria um ambiente para o surgimento de novos vilões.
“Coringa” é a coroação de um dos personagens mais marcantes das revistas de super-herói e foi feito com um grau de qualidade quase inédito e incorporado com maestria por Phoenix. É imperdível para qualquer público, até mesmo para quem não gosta desse universo de super-heróis. Oscar tá batendo na porta.
Curiosidades:
– Na cena em que Athur (Coringa) vai na mansão Wayne por fora, quando o jovem Bruce se aproxima, ele passar por um mini parquinho onde há uma barra idêntica àquela da Batcaverna no seriado do Batman dos anos 60 e ele desce nela igualzinho Batman faria.
– Ainda nessa cena, o personagem que confronta o protagonista no portão é ninguém menos que Alfred, apesar do nome dele nunca ser citado.
– O filme começa com um locutor de rádio falando sobre Gothan. No final o locutor se apresenta como Stan L. Brooks. É uma homenagem ao saudoso Stan Lee, criador dos heróis da Marvel que a DC fez questão de colocar.
– O processo de Joaquim Phoenix era tão intenso que constantemente quando ele não se sentia confortável com a cena filmada, ele saía sem avisar nada a ninguém e depois voltava, deixando seus colegas no vácuo. O único ator com quem ele não fez isso foi Robert DeNiro.
– A síndrome do riso descontrolado da qual o protagonista sofre, existe de verdade. É uma espécie de Síndrome de Tourette, mas voltada para riso.
– Na cena final, quando a câmera mostra uma panorâmica, há uma placa com o título em inglês “Ace in the hole” é que uma frase que o Coringa de Heath Ledger diz em “O Cavaleiro das Trevas”.
– Aliás, o trailer de Coringa foi lançado na Austrália no dia do aniversário de Heath Ledger, que é onde ele nasceu.
– O logo da DC só aparece nos créditos finais como uma forma de mostrar ao público que o fato de ser um filme baseado nas adaptações de seus quadrinhos é apenas um efeito colateral. Inclusive esse filme é produzido por um novo braço da DC apenas para filmes independentes e fora de qualquer universo compartilhado, chamada DC Black Label.
– Todd Phillips produziu um filme que Bradley Cooper produziu e dirigiu: “Nasce Uma Estrela“. Agora Bradley Cooper produziu “Coringa”, um filme que Todd Phillips também produziu e dirigiu.
SPOILER – SÓ LEIA DEPOIS DE TER VISTO O FILME!!!
– A cena final é ambígua: como Arthur já havia dito que tinha sido internado no Asilo Arkham uma vez, mas não lembrava o que ele fez lá, pode ser que o final na verdade seja a primeira vez em que ele foi internado, como em um flashback.
Ficha Técnica
Elenco:
Joaquin Phoenix
Robert De Niro
Zazie Beetz
Frances Conroy
Brett Cullen
Shea Whigham
Bill Camp
Glenn Fleshler
Leigh Gill
Josh Pais
Rocco Luna
Marc Maron
Sondra James
Murphy Guyer
Douglas Hodge
Direção:
Todd Phillips
Produção:
Bradley Cooper
Todd Phillips
Emma Tillinger Koskoff
Fotografia:
Lawrence Sher
Trilha Sonora:v
Hildur Guðnadóttir