Batém à Porta (“Knock at the Cabin”)

A gente até tenta gostar desse filme porque é do M. Night Shyamalan, só logo em sua estréia, em “O Sexto Sentido” de 1999, ele elevou tanto a barra de qualidade que fica difícil aceitar algo bem mediano como essa produção.

Imagina que você e sua família estivessem numa cabana com sua família e aparecem quatro pessoas dizendo que vai rolar o apocalipse e que para impedir vocês têm que escolher um membro da família para matar. E daí matar.

Basicamente esse é o plot do filme, onde a família em questão é um casal de homens, Andrew e Erik, com sua filhinha adotada Wen, enquanto os quatro cavaleiros do apocalipse (sacaram essa?) parecem ser comandados por Leonard (Dave Bautista de “Glass Onion”). O que fica é que o mistério é se realmente existe o apocalipse ou se os intrusos são apenas lunáticos.

Shyamalan de certa forma repete algo constante em seus filmes (por exemplo em “Tempo”): algo que parece ser absurdo, mas que seus personagens devem achar uma saída.

O maior problema aqui é que, apesar da trama se desenvolver bem, ele joga no lixo todos as suas melhores qualidades, ou melhor, as boas qualidades de qualquer suspense. Se geralmente em suas produções, cada cena significa algo ou cada flashback pode remeter a alguma resposta, em “Batem à Porta” é tudo plano e as cenas do passado em nada influenciam na trama e nem há algum easter egg a ser perseguido, além de demonstrar a essência do amor do casal e sua filha que no final vai ser um elemento crucial na decisão que eles tomam.

Todos os artifícios que o diretor desenha para colocar o espectador na dúvida não funcionam como narrativa, mas apenas para esticar um pouco mais o filme, como a hipótese do casal estar sendo assediado pelos quatro intrusos por conta de alguma homofobia em um ataque planejado. Mas nem isso cola como argumento.

Os mais atentos vão perceber uma falha imensa no roteiro em que claramente faltou neurônios para contorná-la (explico na parte de curiosidades / spoilers) e que poderia mudar totalmente o curso dessa história.

Tão grave quanto isso é o fato do filme não ter nenhuma reviravolta, nenhum susto, praticamente nenhuma violência… nada… enquanto o diretor sempre trabalhando com “aquilo que o espectador não vê”, o que já entrou no modo de saturação.

Baseado no livro de Paul Tremblay lançado em 2018 e chamado “A Cabana no Fim do Mundo”, “Batem à Porta” comete os mesmos erros do diretor em suas últimas produções e sem chancelar suas melhores marcas registradas. Entra mudo e sai calado.

Curiosidades:

  • O diretor faz uma participação na cena em que ligam a TV e aperece um programa de culinária onde ele está explicando sobre a receita com outra atriz.

***SPOILERS – SÓ LEIA SE JÁ TIVER ASSISTIDO AO FILME***

  • A grande cratera no roteiro se concentra no personagem de Redmond, interpretado por Rupert Grint. Ele é o único que mente seu próprio nome. Então Andrew lembra que Redmond o atacou num bar por ser homofóbico. Essa subtrama existe para desacreditar a teoria do apocalipse, como se essa invasão fosse algum plano de Redmond. Só que aí as coisas descambam: Leonard afirma que os quatro desconheciam quem estava na cabana. Então seria impossível para Redmond (cujo nome verdadeiro é O’Bannon) tramar esse ataque. Mas se não foi tramado, porque mudar o nome? Pior: todos os três cavaleiros do apocalipse desconheciam o nome verdadeiro de Redmond, mas no final é mostrado que o crachá com o nome dele está dentro do carro à vista de todos que estavam lá. Como então ninguém sabia? Porque Redmond deu esse nome fictício enquanto todos usaram seu nome verdadeiro? Assim, essa subtrama é um tiro que sai pela culatra.
  • Cada cavaleiro do apocalipse usa uma cor de camisa diferente. A camisa de Andrew tem todas as 4 cores. Provavelmente por isso que ele é o sobrevivente.

Ficha Técnica:

Elenco:
Dave Bautista
Jonathan Groff
Rupert Grint
Nikki Amuka-Bird
Ben Aldridge
Abby Quinn
Kristen Cui
McKenna Kerrigan
Ian Merrill Peakes
Denise Nakano

Direção:
M. Night Shyamalan

História e Roteiro:
M. Night Shyamalan
Steve Desmond

Produção:
Marc Bienstock
Ashwin Rajan
M. Night Shyamalan

Fotografia:
Jarin Blaschke
Lowell A. Meyer

Trilha Sonora:
Herdís Stefánsdóttir

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