A Mulher Rei (“The Woman King”)

O filme é baseado na tribo de Daomé, onde hoje é Benin, e reinou de 1600 até 1904, e nas suas destemidas guerreiras Agojie, aqui encabeçadas por ninguém menos que Viola Davis ( “Imperdoável”) como Nanisca, na época das filmagens com 56 anos e exibindo um físico e condicionamento impressionantes.

Sobre a história, digamos que é um ótimo filme, mas baseado em eventos que até gostaríamos que fossem verdade: os Daomés se vêem ameaçados pela tribo de Oyo que dominava o oeste da África e a venda de escravos para os Europeus e precisa de suas valorosas combatentes para escapar do domínio de ambos.

Tudo bem, é um filme de ficção, mas é importante frisar que a história não é bem assim: depois que chegou no poder na era do Rei Ghezo (John Boyega de “Detroit em Rebelião”) foi ajudado pelos Europeis, principalmente pelo brasileiro Francisco Félix de Souza a derrotar a tribo de Oyo e então sua tribo se tornou a principal nação a prosperar com o comércio de escravos para a América, tendo relações próximas e cordiais com as cortes portuguesas e inglesas, mesmo depois que a Inglaterra proibiu tráfico em 1807.

O problema é que um dos pilares da história é o convencimento de Nanisca para cessar o tráfico de escravos e trocá-lo pelo comércio do óleo de Dendê, conversa que nunca aconteceu. Isso tira o apoio moral da história, mas não diminui a obra como produto de ação (com ressalvas).

Ainda há um interessante – e conveniente para o roteiro – drama pessoal de Nanisca junto com a nova aprendiz Nawi (a atriz sul-africana Thuso Mbedu numa performance excelente). Aliás, o elenco inteiro está afinadíssimo: Davis com a sua heroína, consegue transformar uma personagem clichê de ação em uma mulher com várias camadas, Nawi conquista o público cada vez que entra em cena, Boyega faz o melhor personagem, um rei que anda na divisa entre o bem e o mal através da sua politicagem e ainda tem Lashana Lynch (a nossa Maria Rambeau de “Capitã Marvel”) como Igozie, braço direito de Nanisca que tem um poderoso arco dramático.

Dirigido por Gina Prince-Bythewood, que já experimentou o gênero movimentado em “The Old Guard”, fez drama e ação se revezarem bem sem quebra de ritmo, com cenas bem coreografadas e algumas desnecessárias: o que foram aquelas explosões na tribo inimiga e como elas conseguiram colocar pólvora lá? Com o detalhe de que não deu em nada, porque o número de combatentes continuou imenso. Mas é Hollywood sendo Hollywood.

A Mulher Rei” tem dessas: produto comercial com mensagem, mesmo que distorcendo a história, mas que tem todas as boas intenções, embalada por uma produção de primeira linha. Mais que suficiente para ir ao cinema.

Curiosidade:

  • Há uma cena em que o Rei Ghezo fala que quando seu irmão tomou o poder, vendeu a própria mãe como escrava e agora ele a estaria procurando pelo Brasil. Essa história é verdade. Ghezo, inclusive tomou o poder de seu irmão com a ajuda de Francisco Félix com o qual teve um laço de amizade até a sua morte. Félix ajudou nas buscas de sua mãe pelo Brasil, mas não há nenhum registro de que ela foi encontrada. Entretanto há uma corrente de historiadores que dizem que ela foi sim encontrada e voltou para a África com o Rei Ghezo. Isso por causa de um indício de um túmulo no cemitério da tribo Daomé que indica que pode ser a mãe dele. Só que se contrapõe que os Daomés faziam rituais de sepulcro, mesmo sem um corpo, o que deixa os historiadores em dúvida.
  • O filme foi escrito, produzido e dirigido por mulheres. Inclusive a diretora de fotografia também é mulher.

Ficha Técnica:

Elenco:
Viola Davis
Thuso Mbedu
Lashana Lynch
Sheila Atim
John Boyega
Hero Fiennes Tiffin
Jimmy Odukoya
Masali Baduza
Jayme Lawson
Adrienne Warren
Chioma Antoinette Umeala
Siyamthanda Makakane
Shaina West
Sivuyile Ngesi

Direção:
Gina Prince-Bythewood

Roteiro:
Maria Bello
Dana Stevens

Produção:
Maria Bello
Viola Davis
Cathy Schulman
Julius Tennon

Fotografia:
Polly Morgan

Trilha Sonora:
Terence Blanchard

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