“A Menina que Roubava Livros”, baseado no best seller homônimo, talvez seja o perfeito contraponto de “O Menino do Pijama Listrado”. Enquanto este último traz uma variação de uma visão romântica da guerra que caminha para a tragédia, o primeiro faz o caminho inverso, imergindo a protagonista nos horrores da guerra para que depois chegue em sua redenção.
Narrado por um personagem no mínimo inusitado, o filme conta a história de Liesel, (a atriz mirim canadense Sophie Nélisse) uma criança judia que perdeu seu irmão mais novo foi dada para adoção a um casal para que eles pudessem receber a pensão do governo no ambiente pré 2ª Guerra. Sua nova mãe Rosa (Emily Watson de “Anna Karenina”) é aparentemente rígida e fria, enquanto seu marido Hans (Geoffrey Rush, o Capitão Barbossa de “Piratas do Caribe”) é um pai de coração mole que se encanta logo com o carisma da menina. A família vai sofrer uma série de reviravoltas com a chegada da guerra, enquanto Liesel usa como válvula de escape seu gosto cada vez mais aguçado pela leitura e a chegada de um estranho (o estreante Ben Schnetzer) que mudará para sempre suas vidas.
Com um design de produção e reconstituição de época irretocáveis, a direção consegue ótimas e sutis sacadas, como na cena em que um coro de crianças aparece cantando inocentemente um hino anti semita e quando a câmera se afasta, vemos a suástica nazista ao fundo; ou quando o misterioso narrador fala sobre a sensação dos humanos frente à morte no emblemático último ato.
Apesar de colocar personagens unidimensionais em toda a narrativa como o pai bonzinho, a mãe rígida mas de bom coração, o amigo apaixonado, o antagonista mirim que adora Hitler, o judeu sofredor, entre outros, essa – digamos – falha, só não se mostra mais aparente por causa do carisma de seus personagens. E aqui é impossível não citar o belo trabalho de Rush e Watson como os pais de Liesel. Mas se há uma personagem, esta sim tridimensional, que é interpretada a altura é o da protagonista Sophie Nélisse que vai crescendo num ritmo enorme até se tornar uma gigante na tela e conseguir facilmente carregar o filme nas costas.
Como se não bastasse um roteiro para arrancar lágrimas do espectador com um tema tão delicado, um elenco perfeito e uma direção articulada, ainda tem a trilha sonora do mestre John Williams (“Star Wars”) pra acabar com os lenços da platéia com tanto choro.
“A Menina que Roubava Livros” é lindo, mesmo que não seja por natureza, mas pelo braço forte da direção. Mas mesmo nesse caso, beleza é beleza e não se discute. Obrigatório.
Ficha Técnica
Elenco:
Sophie Nélisse
Geoffrey Rush
Emily Watson
Roger Allam
Kirsten Block
Nico Liersch
Hildegard Schroedter
Levin Liam
Ben Schnetzer
Direção:
Brian Percival
Produção:
Ken Blancato
Karen Rosenfelt
Fotografia:
Florian Ballhaus
Trilha Sonora:
John Williams