A Espuma dos Dias (“L’écume des jours”)

A mais nova obra do até então genial Michael Gondry, cérebro e direção por trás das pérolas clássicas “Quero Ser John Malkovich” e “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” fala de temas extremamente interessantes de forma originalíssima e com criatividade inimaginável… mas só não fala daquilo que ele vende.

Baseado no livro de Boris Vian, o que o filme vende: uma história de amor entre Colin e Chloé (Roman Duris e Audrey Tatou que já formaram um casal no ótimo “Albergue Espanhol”). Numa Paris surrealista – como vista pelos olhos de um Salvador Dali – eles se conhecem e se casam, até que ela contrai uma doença e então Colin gasta toda sua fortuna para salvá-la.

Agora o que a produção realmente é: uma excelente crítica à sociedade capitalista. Critica o governo num momento extremamente delicado para União Européia, onde as grandes corporações são donas da mão de obra barata e vêm os seres humanos como animais ou objetos totalmente dispensáveis, vide as cenas dos figurantes com máscaras de animais ou o desfecho da sequencia de patinação no gelo, entre outras. Só que também critica a própria sociedade que, com um abismo social se reveza entre a elite focada apenas nos seus interesses e do povão militante de qualquer ilusão, o que é representado pelo personagem de Gad Elmaleh (“Meia Noite em Paris”) que interpreta o melhor amigo de Colin e fanático pelo intelectual Jean-Paul Sartre.

Tudo isso é envolto, como já citado, numa realidade distópica e surreal e o diretor gasta muito do seu tempo com brincadeiras entre objetos e cenários vivos que, apesar de criativo e em muitas vezes simbolista e lúdico, perde o sentido em boa parte das cenas, chegando a servir como um alívio cômico fora do timing ou até mesmo (não) funcionando apenas para esticar a duração das já longas duas horas.

E é aí que voltamos à grande fatalidade da trama: são tantas as interferências que jamais criamos afinidade com o casal principal e eles não chegam a cativar (mais por culpa do roteiro do que do elenco), furtando todas as chances do espectador desenvolver qualquer emoção que seja enquanto se sente encantado ou ludibriado pelos efeitos de truncagem, edição, reflexos e afins (Gondry não usa efeitos digitais, o que não deixa de ser interessante).

Apesar de ser uma crítica contundente e original à nossa sociedade, “A Espuma dos Dias” vende uma história de amor que nunca entrega. Nem o amor e quase nem a história. Sobra aí apenas a arrogância e a pretensão do diretor que parece ter feito um filme para si mesmo.

Ficha Técnica

Elenco:
Romain Duris
Audrey Tautou
Gad Elmaleh
Omar Sy
Aïssa Maïga
Charlotte Lebon
Sacha Bourdo
Philippe Torreton
Vincent Rottiers
Laurent Lafitte
Natacha Régnier
Zinedine Soualem
Alain Chabat

Direção:
Michel Gondry

Produção:
Luc Bossi

Fotografia:
Christophe Beaucarne

Trilha Sonora:
Étienne Charry

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