Um Alguém Apaixonado (“Like Someone in Love”)

Um dos filmes parados mais interessantes de se ver, graças às lentes do diretor japonês Abbas Kiarostami. Pra entender a linguagem estabelecida, basta ver seus primeiros minutos: a câmera a pontada para um bar com várias pessoas conversando, mas uma conversa telefônica se destaca. Só que ela vem da única personagem que não aparece na tela, mas acaba interagindo com outras pessoas no meio da conversa.

A partir de então percebe-se que a obra flerta com tudo aquilo que não vemos ou não conhecemos, por mais mundano que seja. E é nessa situação mundana que encontramos Akiko, vivida pela belíssima Rin Takanashi, uma jovem que aparentemente é uma garota de programa. Ela é designada especialmente para o senhor Takashi (Tadashi Okuno), um professor ancião que parece saber de alguma ligação desconhecida com Akiko. Ao mesmo tempo, ela tenta enganar seu namorado Noriaki (Ryô Kase de “Cartas de Iwo Jima”), um cara emocionalmente desequilibrado.

Toda história se desenvolve no curso de menos de 24 horas e o roteiro procura sempre transcorrer a ação de forma natural, o que parece (e é) moroso para olhos mais comerciais, mas tem toda uma beleza de enquadramento e ações por parte dos personagens que não só justificam como encaixam perfeitamente e por vezes chega a ser emocionante, como a cena da volta de taxi que Akiko faz vendo sua avó sozinha na frente da estação, ou o pequeno trecho de uma tradução que chega para Takashi somente para depois se revelar uma segunda ligação da protagonista. Detalhe: tudo sem praticamente nenhuma trilha sonora.

Talvez o maior problema da narrativa (vamos descontar o ritmo) é o desfecho que tenta enfiar guela abaixo uma pseudo arte de deixar mais perguntas do que respostas, mas que fica tão vago que o cinéfilo, mesmo deslumbrado com os detalhes do trajeto dos personagens, deve ficar insatisfeito com um final tão aberto.

“Um Alguém Apaixonado” é pura arte, mas que caminha para um exagero: quer mostrar cada vez menos e no fim não mostra nada.

Curiosidade: o título dessa produção franco-japonesa é em inglês porque é o título da música que toca na casa de Takashi, um clássico de Ella Fitzgerald.

Ficha Técnica

Elenco:
Tadashi Okuno
Rin Takanashi
Ryô Kase
Denden
Reiko Mori
Kaneko Kubota

Direção:
Abbas Kiarostami

Produção:
Charles Gillibert
Nathanaël Karmitz
Abbas Kiarostami

Fotografia:
Katsumi Yanagijima

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