Não tinha como “Toy Story 4” não ser um filme caça-níqueis no sentido em que foi feito por conta do sucesso de seus antecessores onde aparentemente todo o arco de história dos brinquedos mais amados das últimas décadas. Só que a Pixar não é qualquer estúdio e eles só se debruçariam para mais uma continuação se achassem o roteiro certo. E sem dúvida acharam.
Woody, Buzz e os brinquedos de Andy acharam um novo lar com a menina Boonie, só que Woody não é mais o preferido. Quando Boonie faz de um garfo de plástico um brinquedo e este cria vida, os demais brinquedos se surpreendem, mas Forky, o garfo não entende a sua própria natureza. É quando a família embarca numa viagem onde Woody e Forky vão parar num antiquário com outros brinquedos sendo que a boneca de lá, Gabby Gabby, vai fazer de tudo para tirar a caixa de voz de Woody para poder ser útil a uma criança.
Tecnicamente não é muito diferente dos demais exemplares da saga onde sempre há um brinquedo que se perde, cai nas garras de um brinquedo mal, enquanto nossos heróis tentam salvá-lo ou mesmo a si próprios. O que muda e realmente se aprofunda na jornada emocional dos personagens e a relação entre os brinquedos e as crianças que dessa vez é explorada ao inverso: seria possível um brinquedo ser feliz sem uma criança para ser seu dono?
Essa razão de ser ou não ser é explorada com maestria pelo diretor Josh Cooley (um dos roteiristas do sensacional “Divertida Mente”) que traz a abordagem da diversidade até na opção de vida de um brinquedo e de como ele próprio tem autonomia para escolher a sua natureza, onde provavelmente só os adultos vão fazer a conexão com a temática da diversidade da nossa sociedade atual.
Dessa vez claramente Woody (Tom Hanks) assume o protagonismo deixando Buzz mais como um coadjuvante destaque junto com a miríade de novos e antigos personagens. Os brinquedos “do lado negro” são bastante assustadores, principalmente os Bensons (bonecos de ventríloquo) que são os guarda costas de Gabby Gabby, talvez a vilã mais complexa (no sentido positivo da palavra) de todos os filmes.
Mesmo não sendo tão emocionante quanto “Toy Story 3” – que talvez tenha sido o auge – a produção não deixa a desejar no aspecto humano e guarda ótimas surpresas para o terceiro ato, sejam elas engraçadas ou de marejar os olhos.
“Toy Story 4” tem a Pixar na veia, uma belíssima história com personagens já consagrados que parece sempre terem algo mais a dizer.
Curiosidades:
– No antiquário dá pra ver o carrinho do personagem Bing Bong de “Divertida Mente” e uma miniatura da casa de “Up: Altas Aventuras”. Também dá pra ver rapidamente em uma cena o boneco do Obi Wan Kinobi de Star Wars. A EVE de “Wall-E” também aparece! Praticamente vários objetos e personagens dos filmes da Pixar estão na loja de antiguidades.
– O boneco Duke Caboom, interpretado por Keanu Reeves é inspirado no real motoqueiro de acrobacias, o legendário Evel Knievel, falecido em 2007.
– A música que toca que parece ser meio de terror quando os bonecos do mal são apresentados é Midnight, the Stars and You que também tocou no clássico do terror “O Iluminado” de Stanley Kubrick.
– O Pizza Planet easter egg que sempre aparece nos filmes da Pixar, aqui aparece como uma tatuagem na perna do cara que toma conta da barraca de tiro ao alvo do parque de diversões.
– A pose que Woody faz quando segura um telefone fingindo ser um brinquedo é a mesma do telefone que Mickey Mouse segura numa versão de um brinquedo das décadas de 60 e 70.
– O brinquedo Tinny de Tin Toy, um dos primeiros curtas da Pixar de 1988 aparece no filme.
– Há uma cena pós créditos, logo no finalzinho mesmo, rápida, mas legal com o Duke Caboom.
– O senhor Geri do curta da Pixar “O Jogo de Geri” de 1997 é ex namorado da dona do antiquário.
– O número do endereço da loja de antiguidades é o mesmo número dos estúdios da Pixar.
– Dá pra ver o escudo do Capitão América em formato de brinquedo dentro do armário de Boonie.
Ficha Técnica
Elenco:
Tom Hanks
Tim Allen
Annie Potts
Tony Hale
Keegan-Michael Key
Madeleine McGraw
Christina Hendricks
Jordan Peele
Keanu Reeves
Ally Maki
Jay Hernandez
Lori Alan
Joan Cusack
Bonnie Hunt
Kristen Schaal
Direção:
Josh Cooley
Produção:
Mark Nielsen
Galyn Susman
Fotografia:
Jean-Claude Kalache
Patrick Lin
Trilha Sonora:
Randy Newman