Tangerina (“Tangerine”)

Enquanto grandes estúdios forçam a barra para colocar diversidade em suas histórias, mesmo que prejudique as próprias histórias, o cinema independente mergulha de cabeça em histórias que, aí sim, fazem completo sentido para a inclusão. Hollywood tem dificuldade de entender que cada tribo tem o seu universo.

Sean Baker, cineasta do premiado e excelente “Projeto Flórida”, fez essa produção antes de se tornar conhecido, usando apenas 3 iPhones 5s para filmar.

Com um elenco desconhecido, conhecemos as amigas transexuais Sin-Dee, que acabara de sair da prisão, e Alexandra. Num bate-papo Sin-Dee descobre que o namorado dela (um traficante) a está traindo e sai às ruas enlouquecida atrás dele.

Nesse meio tempo também conhecemos Razmik, um taxista imigrante aparentemente normal, fazendo seu trabalho no subúrbio da cidade. As duas histórias vão se cruzar em algum momento.

É um roteiro muito simples, talvez, até simplório, mas que explora sem julgamentos, o preconceito, a prostituição, a questão da imigração e, principalmente, a aceitação (ou falta dela) de ser quem é.

De uma maneira tão natural, Baker faz o espectador entrar no dia a dia desse universo, mesmo numa situação peculiar – a traição do namorado da protagonista – e dá alguns presentes narrativos interessantes, como entender porque a transexuais de Los Angeles se referem às mulheres de verdade como “peixe”, além de mostrar a dinâmica e relação entre tráfico e prostituição e o sentimento de ser um pária da sociedade.

Embalado numa música eletrônica genérica, mas que dá contexto à narrativa, a trama não tem pressa para se desenrolar e muitas vezes choca justamente pela naturalidade dos fatos. Destaque para a melhor cena de vômito que qualquer filme pôde trazer (até porque foi de verdade).

Tangerina”, cujo título se refere aos céus e seu reflexo no subúrbio de Los Angeles, faz parte do mesmo universo de “Projeto Flórida” onde, em ambos, seu diretor explora a rotina, tristezas e pequenas felicidades daqueles que por muitos são excluídos pela falta de empatia, equidade e oportunidade.

Um filme que fala pouco, mas significa bastante.

Curiosidades:

  • O orçamento era tão pequeno que, dos 3 iPhones 5s usados para filmar, um virou o celular do próprio Sean Baker, outro ele vendeu para pagar o aluguel e outro ele doou para Academia de Artes de Hollywood.
  • Mya Taylor que faz o papel de Alexandra, revelou nas entrevistas que já se prostituiu de verdade nas ruas de Los Angeles.
  • Mya Taylor and Kitana Kiki Rodriguez (Sin-Dee) já eram amigas antes de fazer o filme.
  • A maioria da história foi filmada na intersecção entre Santa Monica Boulevard e Highland Avenue em Los Angeles, reduto conhecido pelas drogas e prostituição.
  • Há uma cena em que um passageiro de táxi descendente de indígenas diz que seu nome fio inspirado na tradição de sua tribo de nomear o bebê com a primeira coisa que a mãe vê. O ator que o interpreta Clu Gulager foi nomeado exatamente dessa forma. Clu é um nome indígena de um pássaro.
  • Como já foi dito a cena de vômito foi real. O ator Josh Sussman tomou mais de uma garrafa de bebida para se preparar e tudo foi feito em uma só tomada. A cena foi tão nojenta que o diretor vomitou no meio da filmagem.
  • Toda a trilha sonora foi feita a partir de bibliotecas de músicas eletrônicas gratuitas na internet. E não houve sonoplastia: todos os sons são os que estavam no cenário.
  • A música que Alexandra canta no filme foi feita realmente pela atriz Mya Taylor.
  • A produtora e figurinista Shih-Ching Tsou aparece no filme como a dona da loja de conveniência onde se passa todo o terceiro ato do filme.
  • O casting mais difícil foi o da família Armênia de Razmik porque várias das atrizes desistiram antes das filmagens. A seleção teve que ser repetida duas vezes até encontrar o elenco comprometido.
  • Parte do elenco armênio não sabia falar inglês. O diretor Sean Baker contava com Karren Kalagulian que interpreta o taxista Razmik para fazer as traduções.
  • A atriz que faz a passageira da pequena reviravolta da história do taxista é Ana Foxxx, uma conhecida atriz pornô. Como foi seu primeiro filme não pornô ela ficou nervosa e o próprio ator Karren Kalagulian ficava fazendo piadas para ela ficar mais confortável.
  • O filme se passa na véspera de Natal.

Ficha Técnica:

Elenco:
Kitana Kiki Rodriguez
Mya Taylor
Karren Karagulian
Mickey O’Hagan
Alla Tumanian
James Ransone
Luiza Nersisyan
Arsen Grigoryan
Ian Edwards
Scott Krinsky
Clu Gulager
Ana Foxxx
Chelcie Lynn
Shih-Ching Tsou

Direção:
Sean Baker

História e Roteiro:
Sean Baker
Chris Bergoch

Produção:
Sean Baker
Karrie Cox
Marcus Cox
Darren Dean
Shih-Ching Tsou

Fotografia:
Sean Baker
Radium Cheung

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