O título é meio pedante, além de desnecessariamente longo. Passa uma mensagem forçada (ainda que verdadeira) de defesa incondicional da operação Lava-Jato, o que por melhores as intenções que tenha, é feito por pessoas e nem todas estas com a mesma agenda. Por isso seria mais produtivo se o título fosse um simples “Lava Jato” e não é a toa que ao invés de pronunciar todo o título, o espectador sempre esteja se referindo a ele como o “filme da Lava Jato”.
De qualquer forma, é um filme indispensável ao espectador brasileiro, por mais que como cinema seja mediano, nivelando-se pelo grosso do cinema nacional. Mas é indispensável por dar um enfoque didático a uma operação extremamente complexa e que talvez seja a maior operação anticorrupção do mundo. É claro que vão dizer que falam de forma rasa e rasteira, mas é uma crítica incoerente, pois seria impossível descrever com riqueza de detalhes toda a complexidade da Lava Jato em pouco mais de 90 minutos, tal qual é impossível adaptar a série de livros “A Torre Negra” nesse mesmo espaço de tempo sem nada perder. Então em termos de história, o resultado sim, é bastante positivo.
Inspirado nos autos do processo e num livro documentário, a trama é centrada em Ivan, Beatriz e Julio, agentes que entram num projeto para dar andamento a uma série de processos parados na sede da PF em Curitiba e uma apreensão de drogas faz uma inusitada conexão com um desses processos contra a máfia de doleiros (entre eles Alberto Youssef), os quais tem vínculo com a Petrobrás e que desencadeia a investigação contra os principais políticos e empreiteiras do país.
Em termos de execução, a produção ainda sugere o fraco aspecto novelesco principalmente quanto tenta fazer cenas de ação mais elaboradas como a fraca perseguição ao caminhão no primeiro ato. Curiosamente, mesmo com falhas relevantes na execução, a narrativa consegue prender o espectador, proeza que tem até mais mérito, visto que boa parte do filme é com os personagens investigando e praticando revistas e conduções coercitivas.
Tal qual o título, o enredo também passa uma mensagem forçada demais da catequização da Lava-Jato e de seus membros. O próprio juiz Sérgio Moro (Marcelo Serrado) sempre visto como homem de família e o trio de agentes interpretados por Antonio Calloni (“Faroeste Caboclo”), Flávia Alessandra e Bruce Gomlevsky (“O Escaravelho do Diabo”) como baluartes da justiça. Mais uma vez: não que não o sejam, mas o diretor Marcelo Antunez martela desnecessariamente essa mensagem, principalmente através do personagem de Gomlevsky que tem intensa discussões com a família sobre a politização da operação. Nesse ponto é até estranho que o roteiro abrace o aspecto mais pessoal de um dos personagens e deixe os outros de fora (além de Moro que é colocado como homem de família).
De todos o que melhor desenvolve seu personagem é Calloni como Ivan – e também narrador do filme – como o mais consciente sobre o que representa a Lava Jato. E destaque para Roberto Birindelli que interpreta Youssef com um humor deliciosos e que dá uma leveza para a narrativa.
“A Lei é Para Todos” passa uma mensagem positiva forte, mas às vezes forçada demais; tem uma condução falha, mas cumpre a missão de se fazer entender e provocar a conexão do espectador à trama; e principalmente joga uma luz – mesmo que com fortes pitadas ficcionais – para que o povo possa conhecer de perto os processos da Lava Jato e quem é quem nesse jogo do bicho. E se preparem que já já vai ter a parte 2 (vejam as cenas depois dos créditos)!
Ficha Técnica
Elenco:
Antonio Calloni
Flávia Alessandra
Bruce Gomlevsky
Marcelo Serrado
Roberto Birindelli
Ary Fontoura
João Baldasserini
Juliana Schalch
Leonardo Franco
Leonardo Medeiros
Rhainer Cadete
Adelio Lima
Direção:
Marcelo Antunez
Produção:
Tomislav Blazic
Fotografia:
Marcelo Brasil