O diretor Pierre Morel parece ter um fetiche em ver coroas fazendo filmes de ação. Foi ele quem cooptou Liam Neeson a literalmente mudar o rumo de sua carreira lá no primeiro “Busca Implacável”, franquia que se corroeu com o tempo. Agora ele arregimentou Sean Penn (“Aqui é o Meu Lugar”) com seus 54 anos, mas com um físico e uma namorada invejáveis na vida real (ninguém menos que Charlize Theron).
Ele é Jim, um agente mercenário que junto com seu grupo comete um assassinato, beneficiando seus contratantes e degradando a vida da República do Congo. Oito anos depois, arrependido e já do lado do “bem”, Jim vê os integrantes de seu antigo grupo começarem a morrer e ele deve descobrir quem está por trás disso antes que chegue sua vez.
Co-escrito pelo próprio Penn, ele faz questão de colocar suas paixões em tela: o cigarro, já que sempre foi um fumante inveterado, e o surfe, do qual pratica. Por outro lado, constrói um personagem interessante como um anti-herói corroído por pela culpa.
Tem boas cenas de ação, violência explícita que dá um toque de realismo e ainda sequencias em que mostram o protagonista mais humano, tomando porrada e levando tiros (apesar da sempre péssima mira de seus algozes) ao contrário daqueles heróis imbatíveis de outros filmes do gênero.
Só que os elogios param por aí. O roteiro se usa dos clichês mais canalhas para movimentar sua narrativa: começa pelo interesse amoroso de Jim se casar como “pagamento de uma dívida” para um de seus antagonistas (Javier Bardem de “O Conselheiro do Crime” numa ponta patética); vai para as enxaquecas do protagonista que só aparecem nas horas mais convenientes para o roteiro (recurso literalmente chupado do também mediano “3 Dias Para Matar”); até chegar naquele agente da Interpol que parece ser onipresente, mas por incrível que pareça só entra em cena quando já está tudo acabado (Idris Elba de “Mandela” num papel sem nenhuma expressão).
A cena que fecha a ação do último ato, com direito a touros e afins, chega a ser risível e tirada de um filme trash. Já a última cena – depois de tudo o que aconteceu – parece ser extraída de um sonho, não fosse a falta de criatividade dos roteiristas em forçar um desfecho favorável de qualquer jeito.
Finalmente analisando em retrospecto, chega-se a conclusão que a própria motivação dos personagens em “O Franco Atirador” é absurda e forçada só para se ter mais um filme de ação burocrático e saído da máquina de manufatura de Hollywood para que o espectador seja empurrado goela abaixo. Tenho medo de uma próxima produção onde eles juntem Sean Penn com Liam Neeson.
Ficha Técnica
Elenco:
Sean Penn
Jasmine Trinca
Javier Bardem
Ray Winstone
Mark Rylance
Idris Elba
Peter Franzén
Billy Billingham
Daniel Adegboyega
Direção:
Pierre Morel
Produção:
Ron Halpern
Sean Penn
Andrew Rona
Joel Silver
Fotografia:
Flavio Martínez Labiano
Trilha Sonora:
Marco Beltrami