Após ver a produção, fica fácil entender como Casey Affleck (“Horas Decisivas”), que geralmente é introspectivo e limitado, ganhou o Oscar de melhor ator por ela. É aquele famoso caso do papel que cabe no artista e não vice-versa, tal qual foi o burburinho há mais de 20 anos com elogios rasgados a Arnold Schwarzenegger quando fez um robô em “Exterminador do Futuro 2“.
Claro que não é só isso, mas vamos lá: Ele é Lee que logo após a morte do irmão, fica com a difícil tarefa de cuidar de seu filho adolescente Patrick (Lucas Hedges de “Refém da Paixão”). E se isso é um fardo para o problemático Lee é porque existe um passado do qual ele precisa fugir a qualquer custo.
A grande beleza da produção é que o diretor Kenneth Lonergan de “Margareth” remonta a vida do solitário Lee numa narrativa não linear onde o espectador não tem todas as informações mastigadas e vai montando um quebra cabeça temporal até chegar nos eventos chave e impactantes que transformam para sempre a vida do protagonista.
O roteiro tem uma escrita genial onde eventos aparentemente corriqueiros vão construindo os laços entre os personagens e pequenos detalhes fazem toda a diferença lá na frente. O melhor é que ele sai do lugar comum da velha redenção e lições aprendidas ao mostrar um personagem que parece irremediavelmente “quebrado” espiritualmente e ciente de sua precária condição, mas ainda sim uma pessoa do bem.
Então chegamos a Casey Affleck que muito inteligente, pegou um personagem que era a “sua cara” e potencializou com talento e carisma. Sim, pois se o desenho do protagonista ajuda e o roteiro sustenta, Affleck realmente deu tudo de si e conquistou o mérito de uma performance que mesmo que não merecesse a vitória do Oscar, sem dúvida está entre as melhores do ano de 2016. Portanto sua vitória, não pode ser considerada como surpresa, muito menos como azarão.
Com um desfecho que não fecha o arco de história propositalmente e deixa espaço para que o espectador possa imaginar várias expectativas de futuro para Lee e Patrick, “Manchester à Beira Mar” é uma montanha russa emocional de personagens complexos com várias camadas e sentimentos críveis o que torna a trama ainda mais atraente, além de muito bem dirigida.
Curiosidades:
– Apesar da tradução em português parecer que Manchester é o nome da cidade e ela está à beira mar, na verdade Manchester By The Sea é o nome da cidade. Até 1989, ela se chamava apenas Manchester, mas houve um referendo na cidade e daí ela mudou de nome para o que dá o título ao filme. Apesar de o filme retratá-la como uma cidade de pescadores, Manchester By The Sea tem um importante papel econômico no Estado de Massachusetts.
– A idéia do roteiro veio de ninguém menos que Matt Damon. Inclusive ele ia dirigir e atuar, mas as filmagens de “Perdido em Marte” não deixaram, então ele ficou apenas como produtor.
– Há dois momentos (cenas) diferentes onde se assiste a um jogo de hockey. Detalhe: a pesar de se passar em dias diferentes, é o mesmo jogo.
– Kyle Chandler interpreta o irmão que morre, Joe Chandler. Ator e personagem coincidentemente dividem o mesmo sobrenome.
– O nome do barco de Joe é Claudia Marie. Sabemos que é o nome da mãe dele por causa da cena da lápide onde ela está.
– Os produtos na cena de Patrick com a geladeira são substitutos de carne para vegetarianos. O ator Casey Affleck é vegetariano e provavelmente opinou na cena.
– A cena onde os paramédicos e Lee têm dificuldade de colocar a maca com Joe dentro da ambulância foi real. Os atores não estavam conseguindo e o diretor deixou a cena rolar até concluírem.
– O ator que interpreta o agente funerário é realmente um agente funerário e ator nas horas vagas.
– O diretor faz uma aparição como o pedestre que reclama que Lee é um péssimo pai.
Ficha Técnica
Elenco:
Casey Affleck
Lucas Hedges
Michelle Williams
Kyle Chandler
Gretchen Mol
C.J. Wilson
Ben O’Brien
Mary Mallen
Matthew Broderick
Tate Donovan
Direção:
Kenneth Lonergan
Produção:
Lauren Beck
Matt Damon
Chris Moore
Kimberly Steward
Kevin J. Walsh
Fotografia:
Jody Lee Lipes
Trilha Sonora:
Lesley Barber