Jogo Perigoso (“Gerald’s Game”)

Um dos tipos de filmes mais delicados de se prender a atenção do espectador é quando temos um personagem preso num ambiente fechado e potencialmente mortal durante praticamente toda a duração da produção.

Baseado no livro do mestre Stephen King, o diretor Mike Flanagan, outro craque no terror (vide “Doutor Sono”) apresenta Carla Gugino de “O Espaço Entre Nós” e Bruce Greenwood de “Conspiração e Poder”, como o casal Jessie e Gerald, cujo relacionamento em crise os leva a um chalé isolado onde numa brincadeira sexual onde Jessie é algemada, Gerald sofre um infarto fulminante e a deixa presa sem ninguém para salvá-la e, com o tempo passando, a desidratação, fome e uma estranha entidade podem ser fatais para a protagonista.

Logo entendemos o princípio da dinâmica de como o enredo se desenrola: Jessie é esquizofrênica e começa a conversar com as representações de Gerald e dela mesma em sua cabeça numa boa sacada de câmera e direção. Só um pouco mais tarde descobrimos, para melhor ou pior, que o que era para ser uma trama de aprisionamento e claustrofobia se transforma numa jornada de auto conhecimento, inclusive para entender porque Jessie é esquizofrênica em primeiro lugar.

Se por um lado a trama toma um caminho inusitado e, até o seu desfecho tudo gira em torno da vida da personagem, o que é muito bom; por outro, a inserção de vários elementos dramáticos ao longo do caminho muitas das vezes não coloca a relevância devida na linha principal, ou melhor, o público talvez fique meio perdido em qual a linha principal. Por exemplo a tal entidade que pode ou não também ser fruto da imaginação de Jessie é pouco explorada ou explorada de forma irregular que a própria reviravolta tem um efeito bem menor por ter sido um elemento tardio ou raso.

Gugino e Greenwood estão com uma química ótima em seus papéis, inclusive com a dualidade entre Jessie e seu alter ego esquizofrênico.

Jogo Perigoso” merece ser visto mesmo que tenha faltado um pouco mais de consistência narrativa para decolar.

Curiosidades:

– A mulher que Jessie descreve no sonho olhando do alto de um poço para ela é Dolores Clairborne, personagem de outro livro de Stephen King, chamado no Brasil de Eclipse Total, publicado em 1992 e adaptado para o cinema em 1995.
– Não por caso, esse livro Eclipse Total menciona exatamente o mesmo eclipse que se passa em “Jogo Perigoso”.
– O livro que Jessie joga no cachorro é o mesmo escrito por Maddie no filme “Hush: A Morte Ouve”, outro filme de Mike Flanagan. A atriz que a interpreta, Kate Siegel, também aparece nesse filme como a mãe de Jessie na infância.
– Gerald faz uma brincadeira chamando o cachorro de Cujo que é o nome do cachorro assassino que dá título ao livro de Stephen King publicado em 1981 e adaptado para o cinema em 1983.
– A cabeceira da cama é formada pela moldura do espelho do outro filme de Mike Flanagan, “O Espelho”.
– Jessie diz que a entidade parece sofrer de acromegalia, uma condição congênita que faz com que a pessoa seja extremamente alta com protuberâncias em suas extremidades. Apesar da aparência da entidade ser devido a maquiagem, o ator que a interpreta, Carel Struycken, sofre de acromegalia. Ele inclusive interpretou o mordomo da Família Adams nos clássicos de 1991 e 1993.
– O medalhão na entidade (há uma cena em que ele aparece em close) é uma referência aos personagens de “A Torre Negra” (outro livro de King) que também tem esse símbolo.
– O irmão do diretor, James Flanagan, faz uma participação especial no final como um dos guardas no julgamento.

Ficha Técnica

Elenco:
Carla Gugino
Bruce Greenwood
Chiara Aurelia
Carel Struycken
Henry Thomas
Kate Siegel
Adalyn Jones
Bryce Harper

Direção:
Mike Flanagan

Produção:
Trevor Macy

Fotografia:
Michael Fimognari

Trilha Sonora:
The Newton Brothers

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