O primeiro “It” quebrou a banca dos filmes de terror como sucesso de crítica e público. No entanto, ele deixou no ar duas perguntas: uma óbvia sobre como se mata o vilão Pennywise e outra não tão óbvia sobre como é o modus operandi do palhaço assassino para matar, visto que ele se apresenta em forma de ilusões, mas também fisicamente e aí sim mais mortal. As respostas para ambas as perguntas são um tanto decepcionantes.
Apenas para registrar a sinopse, 27 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, nossos protagonistas já crescidos devem se reunir na sua cidadezinha natal para combater novamente a entidade maligna que voltou matando gente, e dessa vez não só crianças. Inclusive o filme veio com o peso de presenças ilustres como Jessica Chastain e James McAvoy, ambos recém vindos de “X-Men: Fênix Negra”.
Começando pela segunda pergunta – a não tão óbvia – é o que permeia praticamente 80% da narrativa: Pennywise tem duas maneiras de agir, sua presença física, a qual ele é mortífero, e suas ilusões para amedrontar os personagens. E o diretor Andy Muschietti, do antecessor, não se cansa de colocar cenas com essas ilusões, uma para cada personagem e, não obstante, para seus pares na versão criança (sim, os atores mirins estão de volta). Por isso mesmo este é o filme de terror mais longo da história. Só que são tantas que o espectador com um pouquinho de atenção vai sacar rápido que elas não matam ninguém. Então, apesar de bem feitas, elas não representam perigo algum para os personagens o que acaba cansando o público, o qual apenas vai se fixar na criatividade das cenas, mas sem criar conexão com os personagens, pois sabem que no final estarão seguros. Essa constatação é algo que drena grande parte da energia do filme.
Sobre como se mata o Pennywise, a plateia vai perceber a viagem que é fazer o tal ritual apresentado no filme (quase fiel ao livro), mas ainda assim é um problema menor. Só que o desfecho e como a verdadeira idéia de matar o palhaço alienígena aparece também é algo difícil de engolir. Olhando em retrospecto faz sentido sim, mas a abordagem para se chegar lá tá longe de ter sido uma das melhores (sem spoilers).
Dessa forma esse capítulo 2 (e final, espera-se) se supera visualmente, dá ótimos sustos, mas tem uma narrativa cansativa e um final bem questionável, deixando-o na melhor das hipóteses como apenas um bom filme e no máximo o fim não tão digno para nossos heróis e nosso vilão.
Curiosidades:
– O dono da loja de bicicletas é ninguém menos que o autor do livro, Stephen King. Nessa lona há uma placa de carro pregada na parede. É a mesma de seu livro (e filme) “Christine – O Carro Assassino”.
– No início vemos que o personagem de James McAvoy é um escritor e roteirista muito criticado pelos seus desfechos. Isso foi uma piada interna, mas no auge de Stephen King, seus editores sempre criticaram seus desfechos também.
– O diretor do filme que o personagem de James McAvoy está roteirizando e que aparece numa breve cena é o icônico diretor de Hollywood Peter Bogdanovich de filmes premiados da década de 70 como “Amor, Enterno Amor”, “Lua de Papel”, “Marcas do Destino” e “Um Sonho, Dois Amores”. E seu nome no filme também é Peter.
– Bill Skarsgård disse que gostou mais de filmar o segundo filme porque ele podia sair com o elenco adulto, já que não dava pra fazer isso com as crianças do antecessor.
– O filme foi caro porque, entre outros motivos, todos os atores mirins passaram por um processo digital de rejuvenescimento, pois como adolescentes, se desenvolveram muito no espaço de dois anos entre as filmagens.
– Um dos atores, Bill Hader, não sabia que Bill Skarsgård – que tem estrabismo leve – consegue mover os olhos para direções diferentes. Quando Bill mostrou que sabia fazer, o seu xará tomou um susto.
– No final do primeiro “It”, os atores mirins colocaram num papel que atores eles gostariam que o interpretassem em suas versões adultas. Dois deles acertaram: Bill Hader e Jassica Chastain.
– No cinema abandonado que Richie entra tem os cartazes da comédia romântica “Mensagem Para Você” com Tom Hanks e Meg Ryan na década de 90. Um dos cartazes está rasgado de uma forma que se pode ver as letras maiores “IT”.
– No artefato para o ritual, um dos desenhos representa “A Torre Negra”, livro (e filme) que conecta várias obras de Stephen King.
– Na cena da loja, Stephen King toma uma bebida num caneco do brasão do time argentino Club Atlético Independiente, do qual o diretor é fã.
– Aliás, o diretor Andy Muschietti aparece como um cliente na cena da farmácia.
– O cenário do quarto onde Bill está escrevendo um livro é exatamente o mesmo de “Conta Comigo”, outra adaptação de Stephen King da década de 80.
– A cena da cabeça com pernas de aranha foi baseada no filme “O Enigma do Outro Mundo” de John Carpenter de 1982.
– Na cena de Jessica Chastain no banheiro, há um momento que uma entidade põe a cara na porta e fala “Lá vem o Johnny” que é uma homenagem à cena idêntica de outro clássico de Stephen King, “O Iluminado”, onde Johnny foi interpretado pelo icônico Jack Nicholson em 1980.
Ficha Técnica
Elenco:
Jessica Chastain
James McAvoy
Bill Hader
Isaiah Mustafa
Jay Ryan
James Ransone
Andy Bean
Bill Skarsgård
Jaeden Martell
Wyatt Oleff
Jack Dylan Grazer
Finn Wolfhard
Sophia Lillis
Chosen Jacobs
Jeremy Ray Taylor
Direção:
Andy Muschietti
Produção:
Roy Lee
Dan Lin
Barbara Muschietti
Fotografia:
Checco Varese
Trilha Sonora:
Benjamin Wallfisch