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Junte a estética de Stanley Kubrick, mestre do clássico “O Iluminado”, os distorcidos personagens de David Cronenberg (“Cosmopolis”) e uma história na mesma linha que Joon-ho Bong contou em “O Expresso do Amanhã” e você vai ter um gostinho de “High-Rise”.
Tom Hiddleston de “A Colina Escarlate” é Laing, um fisiologista que vai morar num prédio vendido como tudo o que o futuro guarda (contando que o filme é uma realidade alternativa situado na década de 70): no prédio há desde piscinas a supermercados, fazendo com que o inquilino possa, se quiser, nunca deixá-lo. Projetado pelo arquiteto Royal (não coincidência o nome vem de rei ou realeza) interpretado por Jeremy Irons (o Alfred de “Batman vs Superman”) que vive na cobertura, ele claramente desperta uma luta de classes daqueles que vivem nos andares mais térreos contra aqueles dos andares mais altos que vivem dando festas extravagantes. Quando problemas técnicos começam a se instalar no condomínio, o prédio – que funciona como um organismo vivo – começa a se degradar bem como o psicológico de seus residentes, enquanto Lain luta entre se manter são ou se adaptar à loucura coletiva.
Baseado no livro do aclamado autor J.G. Ballard e lançado em 1975, a produção versa muito mais do que uma mera luta de classes, mas também sobre o atualíssimo tema do desejo de adaptação do certo no meio dos errados, coisa que as redes sociais difundem cada vez mais; dos fins que justificam os meios, inclusive pincelando contextos políticos; além da própria transformação que o ser humano tem nas adversidades extremas onde a civilidade dá espaço para a selvageria.
O diretor Ben Wheatley que também fá flertou com a esquisitice e humor negro em no longa independente “Turistas”, consegue extrair do elenco exatamente a humanidade sendo descascada em finas camadas de loucura… Com exceção do ator James Purefoy de “John Carter: Entre Dois Mundos”, cuja canastrice parece exalar em todos os poros e faz uma caricatura medíocre de um emergente que se infiltrou na nobreza do prédio.
A obra faz referência a vários impérios desde aquele controlador como visto no clássico “1984” até o romano onde uma cena no terceiro ato vira uma recriação caleidoscópica do desfecho de Julio César e seu filho Brutus.
“High-Rise” é uma fábula retro-futurista de nicho cheia de conteúdo e referências a temas atuais cuja arte talvez espante os mais comerciais. Imperdível para cinéfilos dos andares de cima.
Curiosidades:
– J.G. Ballard também escreveu o livro “Crash – Estranhos Prazeres” que foi adaptada pro cinema em 1996 justamente por David Cronenberg, uma das inspirações que citei na crítica.
– O autor deu entrevista dizendo que inspirou seu livro na série Dr. Who (na versão dos anos 70, é claro).
– Em 80% das cenas, algum personagem está fumando.
– A música SOS da banda setentista ABBA é tocada em duas versões diferentes (uma por Clint Mansell de “Filth” e outra pelo Portishead). Detalhe: a música foi lançada no mesmo ano do livro.
Ficha Técnica
Elenco:
Tom Hiddleston
Jeremy Irons
Sienna Miller
Luke Evans
Elisabeth Moss
James Purefoy
Keeley Hawes
Peter Ferdinando
Sienna Guillory
Reece Shearsmith
Enzo Cilenti
Augustus Prew
Dan Renton Skinner
Stacy Martin
Direção:
Ben Wheatley
Produção:
Jeremy Thomas
Fotografia:
Laurie Rose
Trilha Sonora:
Clint Mansell