Estou Pensando em Acabar com Tudo (“I’m Thinking of Ending Things”)

Charlie Kaufman é o gênio por trás dos roteiros dos inesquecíveis “Quero Ser John Malkovich” e “Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças”; e ainda pegou na batuta de diretor dos ótimos “Anomalisa” e “Sinédoque, Nova York”. Só que talvez ele tenha usado tanta genialidade nesse seu novo projeto como roteirista e diretor que sobrou pouco para o espectador, ou melhor, muito para se absorver.

Jessie Buckley de “Doolitle” é uma jovem que faz uma viagem com seu namorado (Jesse Plemons de “Programado Para Vencer”) para ir conhecer os pais dele, num bate e volta porque no outro dia ela precisa trabalhar. Mas entre conversas e filosofias, ela chega lá e vários eventos abstratos acontecem que fazem ela por em dúvida tudo o que ela sabe sobre o mundo.

Kaufman usa e abusa da metalinguagem para falar sobre a transitoriedade da vida e do lugar que achamos que ocupamos no mundo ou na vida de alguém e aquele que verdadeiramente ocupamos. Só que, apesar de mensagens profundas sobre esse tema, elas são relativamente simples, mas o diretor escolhe investir um enorme tempo para transmiti-las e enche a cabeça do espectador com metáforas visuais e artifícios narrativos que, em excesso, tornam-se desnecessários.

Muito bom que a diferença entre os diálogos dentro do carro e na casa dos mais do namorado, façam a protagonista perceber que nem tudo gira em torno dela (inclusive o fato dela não ter um nome definido), mas não era preciso 40 minutos de cenas de diálogo dentro de um carro cheio de referência literário-filosóficas para o público pegar a mensagem. O próprio climax teatral dá uma boa sacada, mas após tantas outras cenas que dizem as mesmas coisas, já não tem a mesma força.

As diferenças de idade dos pais em diversos momentos da produção, bem como a subtrama do zelador do colégio que mostram não só o ciclo da vida como as frustrações dos personagens projetados também fazem um bom trabalho, mas também tem durações exageradas. O corte rápido do desfecho é ao mesmo tempo uma triste e grata surpresa, já que tudo o que tinha para ser dito foi repetido à exaustão.

De qualquer forma, há referências interessantes de uma felicidade platônica ou nunca alcançada como um imaginário filme dentro do filme, dirigido por Robert Zemeckis, uma cidade de com uma sorveteria mágica que esconde uma triste realidade, ou ainda um porco imaginário que figura como símbolo de liberdades que Jake – o namorado – nunca teve.

Estou Pensando em Acabar com Tudo” é um ótimo exercício metalinguístico e também um extenso exercício de paciência. E nem todo mundo topa fazer os dois.

***EXPLICAÇÃO – SÓ LEIA SE JÁ VIU O FILME***

– O mais simples: O zelador é Jake e sua namorada é a projeção dele vivendo uma história de amor, onde sua auto estima é tão baixa que, na própria história, a jovem (ele mesmo projetado) pensa em dar um ponto final na relação.
– A grande sacada do filme é que nessa fantasia de Jake, a narrativa é vista pela personagem da namorada, isto é, apesar dele controlar a fantasia, ela tem autonomia de transitar por ela da maneira que bem entende (lembrando que ela é uma mera projeção do próprio Jake).

Ficha Técnica

Elenco:
Jesse Plemons
Jessie Buckley
Toni Collette
David Thewlis
Guy Boyd
Hadley Robinson
Gus Birney
Abby Quinn
Colby Minifie
Anthony Robert Grasso
Teddy Coluca
Jason Ralph
Oliver Platt

Direção:
Charlie Kaufman

Produção:
Stefanie Azpiazu
Anthony Bregman
Charlie Kaufman
Robert Salerno

Fotografia:
Lukasz Zal

Trilha Sonora:
Jay Wadley

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