Era Uma Vez Um Gênio (“Three Thousand Years of Longing”)

A versatilidade de George Miller que fez de seu último “Mad Max – Estrada da Fúria” um dos melhores filmes da década não tem limites. Ele, que também tinha emplacado uma animação de essência diametralmente oposta, “Happy Feet – O Pinguim”, volta-se agora para um conto mágico, mas que talvez tenha se aprofundado tanto em sua própria arte que talvez seja a sua produção de mais difícil consumo comercial.

Tilda Swinton de “A Crônica Francesa” é Alithea (aquela em que se pode confiar em grego antigo), mulher livre e independente, mas que nem sabe que algo falta em sua vida. Até que numa viagem a Turquia, ela compra uma garrafa que contém um gênio (Idris Elba de “A Fera”). Relutante em fazer seus três desejos, eles começam a trocar histórias de sua vida dentro do quarto de hotel e desenvolvem uma peculiar relação.

É um filme de narrativa, ou seja, há um narrador e dentro do próprio filme, 80% dele são os personagens narrando suas histórias. Essa estrutura, apesar de dinâmica, nem sempre é bem absorvida pelo público. Só que o diretor, tem uma grande inventividade em misturar presente e passado de forma em que o espectador consiga sempre se situar e mais uma vez faz um espetáculo áudio visual com efeitos especiais estonteantes e uma belíssima fotografia de John Seale que, pela segunda vez – após “Mad Max” – deixa a aposentadoria para atender o pedido do amigo. O próprio fato de Idris Elba ter seu tamanho aumentado digitalmente em praticamente todas as cenas e mesmo assim interagindo “normalmente” com o elenco é algo notável.

Talvez uma das grandes sacadas do filme são as suas rimas narrativas: por exemplo, quando Alithea guarda uma caixa de papelão com o nome do ex-namorado, mas que no último ato a cena se repete com um toque a mais (ou a menos); ou quando o amor é reconhecido como um nó na garganta, o qual já havia sido mostrado em outra situação no primeiro conto do gênio, entre outros ótimos momentos.

O terceiro ato é particularmente mais emocionante, pois trata do sentimento entre os dois, mas também é quando o ritmo acalma um pouco levando a história a ter inúmeros fade outs (quando parece que o filme acabou), o que pode parecer estranho para alguns. Ainda assim, o desfecho é muito bonito, principalmente se visto pelos olhos da protagonista.

Era Uma Vez Um Gênio” é um programa original, diferente, visualmente cativante, com uma estrutura e ritmo peculiares que talvez divida opiniões, mas que tem um apelo artístico incontestável.

Curiosidades:

  • O livro que Alithea lê no avião é “O Profeta” de Gibran Khalil Gibran, lançado há exatos 100 anos do lançamento do filme.

***SPOILER – NÃO LEIA ANTES DE VER O FILME***

O filme todo gira em torno do número 3:

  • 3 desejos
  • 3 histórias do gênio
  • O título em inglês contém a palavra 3
  • 3 aparições do próprio número 3 durante o filme
  • O filme termina com o gênio visitando a Alithea a cada 3 anos

Ficha Técnica:

Elenco:
Tilda Swinton
Idris Elba
Pia Thunderbolt
Berk Ozturk
Anthony Moisset
Alyla Browne
Sage Mcconnell
Abel Bond
Agani Gecmez
Ayantu Usman
Peter Bertoni
Lianne Mackessy
Harlan Norris
Leslie Krahner
George Zammit
Feride Eralp
Khoury Matthew
Burwaiss Ahmed
Anna Adams

Direção:
George Miller

Roteiro:
George Miller
Augusta Gore
A.S. Byatt

Produção:
George Miller
Doug Mitchell

Fotografia:
John Seale

Trilha Sonora:
Junkie XL

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