Se “Thor” foi a porta para o mundo mítico da Marvel e “Guardiões da Galáxia” foi a porta para o mundo espacial, “Doutor Estranho” é a porta para o mundo da magia. E bem planejados como são os autores, todos esses mundos estão prestes a colidir (e de certa forma já colidiram) com consistência e harmonia.
O que a produção tem de convencional, ela tem de divertida. Até porque numa análise fria, “Doutor Estranho” é um filme tradicional de super-herói nos moldes de “O Homem-Aranha“: o protagonista sobre uma tragédia que o leva a uma redenção onde adquire e aprende a usar poderes para proteger o mundo dos inimigos, sendo que já existe alguém querendo dominar a humanidade. Também há um interesse feminino que, apesar de pouco explorado no filme, certamente será usado na continuação como a donzela em perigo.
Dando nome aos bois, Benedict Cumberbatch de “Aliança do Crime” não poderia ter sido uma escolha melhor para interpretar Stephen Strange (o papel foi escrito com ele em mente), um brilhante cirurgião, apesar de arrogante e egocêntrico, que sofre um acidente (nunca dirija e fique no Whatsapp ao mesmo tempo) e machuca as mãos de tal forma que perde sua capacidade de operar. Sem cura e praticamente quebrado, ele vai para o oriente em busca de um tratamento avançado que ouviu falar e encontra um lugar operador pela Grande Anciã (a metamórfica Tilda Swinton de “Ave César!”) que o ensina sobre a magia e os bens que ela pode trazer.
Enquanto isso um de seus discípulos, Kaecilius (Mads Mikkelsen de “A Salvação”) se volta contra ela e rouba páginas de um poderoso livro para chamar uma entidade do mal capaz de destruir a Terra. Então Strange deve superar seus traumas e junto com seu novo e misterioso parceiro, Barão Mordo (Chiwetel Ejiofor de “Olhos da Justiça“) devem achar uma maneira de deter os maquiavélicos planos do vilão.
A grande sacada do roteiro e que dá coesão à narrativa é que a, ao contrário do mundo de “Harry Potter“, a magia apresentada no filme tem um perfil científico, isto é, faz parte de uma ciência que ainda não dominamos, inclusive com explicações superficiais, mas suficientes para o espectador entender o mecanismo de como ela age.
Falando em magia, os efeitos especiais são sensacionais, fluidos e jamais parecem ter nuances digitais, principalmente na inteiração com os personagens de carne e osso que hora ou outra também viram digitais, mas poucos irão perceber. Entretanto não dá para negar que o conceito de materializar a distorção da realidade foi quase toda tirada de “Inception: A Origem” (apesar do diretor jurar que sua inspiração para os efeitos veio de “Matrix“).
Outro ponto que o diretor Scott Derrickson (“Livrai-nos do Mal”) soube aproveitar muito bem foi o humor que sem dúvida teve uma relevância maior aqui do que em outros filmes da Marvel, mas de maneira alguma tirou a seriedade da situação dos nossos heróis.
Pena que a apaixonante Rachel McAdams de “Spotlight” não foi tão bem aproveitada aqui, servindo mais de suporte médico do que de interesse amoroso, bem parecido com a participação de Rosario Dawson como a enfermeira nas séries de Marvel “Demolidor”, “Jessica Jones” e “Luke Cage”.
“Doutor Estranho” é diversão inteligente, com ritmo eletrizante e humor acima da média, mas que não prejudica a narrativa. É a Marvel marcando mais um gol. E tem duas cenas pós créditos!
Curiosidades:
– A voz de Dormannu, a entidade que quer destruir a Terra é dublada pelo próprio Benedict Cumberbatch.
– Em Thor, no museu de tesouros de Odin é possível ver o Orb de Agamotto, que é citado em Doutor Estranho.
– Em Capitão América 2: O Soldado Invernal, um dos personagens cita que a Hydra vem monitorando várias pessoas relevantes, entre elas, Stephen Strange.
– Nas HQs, o personagem da Grande Anciã é um homem.
– Os dois filhos de Tilda Swinton – que faz a Grande Anciã – trabalharam nos bastidores do filme.
– No início do filme há uma tomada panorâmica onde se pode ver o prédio dos Vingadores construído por Tony Stark.
– O nome Kaecillius (o vilão) vem de caecília, uma rara espécie de anfíbio parecido com uma cobra.
– Logo antes do acidente de carro, o assistente de Strange passa alguns casos por telefone para ele analisar. Um deles é de um homem que sofreu um acidente enquanto testava uma armadora militar. Esse paciente é Justin Hammer, personagem interpretado por Sam Rockwell em O Homem de Ferro 2. Isto significa que Doutor Estranho começa na mesma linha do tempo de O Homem de Ferro 2 e dura até o fim de Vingadores: A Era de Ultron (se contarmos com a cena pós créditos).
Ficha Técnica
Elenco:
Benedict Cumberbatch
Chiwetel Ejiofor
Rachel McAdams
Benedict Wong
Mads Mikkelsen
Tilda Swinton
Michael Stuhlbarg
Benjamin Bratt
Scott Adkins
Zara Phythian
Alaa Safi
Katrina Durden
Topo Wresniwiro
Umit Ulgen
Linda Louise Duan
Direção:
Scott Derrickson
Produção:
Kevin Feige
Fotografia:
Ben Davis
Trilha Sonora:
Michael Giacchino