Casa Gucci (“House of Gucci”)

Casa Gucci” é um novelão das oito. É uma “Avenida Brasil”, um “Vale Tudo”, uma “Senhora do Destino”. Aliás, antes fosse, pois contar a intrincada saga de intrigas que culmina em assassinato da família dona de uma das marcas mais conceituadas da moda mundial é um desafio impossível mesmo nas pouco mais de duas horas e meia de projeção.

O diretor Ridley Scott fez um trabalho fantástico em “O Último Duelo” pegando uma história de tamanho limitado e aprofundando-a e desdobrando-a de maneira detalhada para que o espectador a entenda em todos os aspectos. Estranhamente em “Casa Gucci”, ele faz o inverso: pega uma história imensa e a conta praticamente em pedaços tentando pegar o que mais importa, mas ainda assim não levando momentos importantes e muitos deles necessários.

A cantora e cada vez mais atriz Lady Gaga é a vilã da novela. Cai perfeito no estereótipo da Carminha ou da Nazaré Tedesco, quase uma Odette Roitman. O excesso de plásticas que prejudica um pouco a atuação faz sua performance ainda mais novelesca. Ela é Patrizia que logo no início da história conhece Maurizio (Adam Driver que também trabalhou com Scott em “O Último Duelo”) e com sua ambição começa um relacionamento e passa a ser o elemento desestabilizador de toda a família, a qual inicialmente já começava a questionar as suas intenções.

Um dos problemas de se contar a história em pedaços é a mudança repentina no comportamento dos personagens, as quais seriam cruciais entendermos a motivação. Por exemplo quando Maurizio deixa de amar Patrizia, não há necessariamente um arco narrativo que evolua para isso, sendo apenas uma girada de chave, uma edição. Quando Aldo, personagem brilhantemente interpretado por Al Pacino (“Maglehorn”) sai de querido para desafeto, tudo se dá num piscar de olhos. E nem seu talento conseguiu manter uma construção de personagem coesa.

Quanto mais o filme se aproxima do terceiro ato, os cortes são mais brutos até chegar no final em que há dois momentos cruciais não explicados: a mudança de estado de espírito de Maurizio após uma reunião decisiva, a qual culmina no climax; e a investigação sobre o assassinato que simplesmente não é mostrada e deveria ser um dos pontos principais.

O que se pode dizer de impecável é o design de produção que parece ter sido pensado em cada detalhe parecido ao que o diretor fez em “Todo Dinheiro do Mundo”, desde a reconstituição de época, passando pelo figurino e fotografia até a maquiagem, com destaque para nosso ex-Coringa Jared Leto agora como Paolo Gucci que está irreconhecível. Sem esquecer da trilha com grandes nomes da música pop dos anos 70 e 80 como Blondie, Donna Summer, Eurythmics entre outros que dão uma excelente ambientação.

Casa Gucci” tem seu forte no elenco e produção, mas escorrega na narrativa quebrada que prejudica sua evolução. Ainda deve tentar um lobby para indicações a prêmios, mas se daria bem melhor como uma série.

Curiosidades:

– Salma Hayek de “Eternos” que faz uma vidente no filme, é casada com ninguém menos que François-Henri Pinault CEO da Kering, atual dono da marca Gucci. Essa tirou na loteria!
– Quando Patrizia se benze dizendo “Pai, Filho, e Casa Gucci”, essa linha foi improvisada e Ridley Scott gostou tanto que deixou no filme.
– As cenas de sexo entre Lady Gaga e Adam Driver foram difíceis de fazer porque os dois viviam caindo na risada e não conseguiam completar a cena. Numa delas na banheira driver sem querer queima a mão numa vela.

Ficha Técnica

Elenco:
Lady Gaga
Adam Driver
Al Pacino
Jeremy Irons
Jared Leto
Jack Huston
Salma Hayek
Alexia Murray
Vincent Riotta
Gaetano Bruno
Camille Cottin
Youssef Kerkour
Reeve Carney
Florence Andrews
Mehdi Nebbou
Miloud Mourad Benamara
Andrea Piedimonte Bodini
Vincenzo Tanassi

Direção:
Ridley Scott

Produção:
Giannina Facio
Mark Huffam
Ridley Scott
Kevin J. Walsh

Fotografia:
Dariusz Wolski

Trilha Sonora:
Harry Gregson-Williams

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