“Brooklyn” se encontra na mesma categoria que “Joy: O Nome do Sucesso”: ambos filmes que foram feitos para concorrer ao Oscar, mas não tão bons para ganhar, ou melhor, ficam a anos luz daqueles que realmente vão disputar a estatueta principal. Em outras palavras, são os enchimentos de linguiça do Oscar.
Dirigido por John Crowley de “Circuito Fechado” e baseado num livro de Colm Tóibín, a obra nos apresenta Eillis (Saoirse Ronan de “O Grande Hotel Budapeste”), irlandesa no período de pós-guerra (1952) que vai para os EUA em busca de uma vida melhor (como a Academia adora esse tema). Daí ela passa metade do filme sentindo saudade de casa e a outra metade também. As coisas mudam (só um pouco) quando ela conhece o imigrante italiano Tony (o desconhecido Emory Cohen fazendo cosplay de James Franco).
Não há dúvidas que a produção se destaca bastante em aspectos técnicos, principalmente no que tange à reconstituição de época: design, cenografia e figurino. Realmente o trabalho evoca tanto o espírito sombrio de uma Irlanda que aos poucos se reergue da guerra, quanto na Nova York cosmopolita germinando a onda de cultura que iria tomar conta do país em menos de uma década, que se apresenta como grande oportunidade de realizar sonhos.
Quanto ao elenco, Saoirse Ronan está no máximo correta em seu papel, mas ainda assim, apresenta certos maneirismos burocráticos facilmente identificáveis que tira um pouco da naturalidade do papel. O destaque aí vai para veterana Julie Walters (“As Aventuras de Paddington”) como a excêntrica dona da casa do Brooklyn onde Eillis se estabelece.
Como já dito, o roteiro exala temas que o Oscar gosta de indicar, como a realização de sonhos na América (do Norte), mas aparentemente nessa ânsia de concorrer, esquece de premissas básicas que mais atrapalham do que ajudam: então por conta da volta de Eillis pra Irlanda – e não chega a ser um ano de ausência – todas as oportunidades se abrem para ela, como se fosse até uma cidade diferente e só por causa de um evento ocorrido com uma personagem? Enfim, certas passagens são mal explicadas e ficam no ar, como a própria motivação de Eillis de voltar para a América pelo simples questionamento de seu caráter.
“Brooklyn” é bom de ser ver, mas não emociona. Sobra técnica, mas falta carisma. Ótima narrativa, mas burocrático e engessado na forma em que ela é exposta. Mais um daqueles paradoxos do Oscar.
Ficha Técnica
Elenco:
Saoirse Ronan
Emory Cohen
Julie Walters
Domhnall Gleeson
Jim Broadbent
Fiona Glascott
Eileen O’Higgins
Emily Bett Rickards
Eve Macklin
Nora-Jane Noone
Direção:
John Crowley
Produção:
Finola Dwyer
Amanda Posey
Fotografia:
Yves Bélanger
Trilha Sonora:
Michael Brook