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A reação da crítica para esse filme é engraçada. Foi do tipo amor ou ódio. Porque filmes que apresentam extremos devem ter avaliações também em extremos? Claro, estamos falando de uma obra de Lars Von Trier de “Dogville“, isto é, já peneiramos aí o consumidor que busca o cinema como forma de escapismo e somente deixamos aquele que também procura uma forma de arte. A análise se dá no âmbito do que essa arte vai agregar ao espectador.
Gira em torno de um casal que perde seu filho pequeno por um descuido deles e assim, ambos devem lidar com a perda. O marido (Willem Dafoe de “Um Segredo Entre Nós“) é um terapeuta e se recupera mais rápido, enquanto a mulher (Charlotte Gainsbourg de “Não Estou Lá“) se afunda num estado cada vez mais depressivo. Daí ele comete um erro crasso para qualquer terapeuta: resolve tratar da esposa, quando sabemos que tratar de um ente querido geralmente é nocivo e não dá bons resultados. Para isso, ele a leva a uma cabana na floresta com o objetivo de expor seus medos, o que desencadeia uma espiral de caos ao extremo.
Como estamos falando de Von Trier a história é contada de uma forma abstrata, lúdica e, nesse caso, gráfica até demais. Os cinco primeiros minutos trazem uma das cenas mais líricas de todos os tempos mostrando a dualidade entre o sexo, a inocência e a morte, como sendo o prólogo. A partir daí a dupla de protagonistas consegue estabelecer uma boa química para contar os fatos que virão. Repare que os rostos de todos os figurantes estão digitalmente cobertos.
Sim, o filme é feito para chocar. Cenas de sexo explícito e mutilação fazem parte do pacote. Desnecessário? Nem tudo. Mas o que realmente vai nivelar essa obra para melhor ou pior é responder duas perguntas: 1) É crível que a relação dos dois tenha chegado àquele ponto? 2) É explicável a natureza dos acontecimentos listados durante a projeção? Ambas as respostas estão interligadas. Apesar de, numa análise superficial, alguém poder dizer que sim, é crível, devemos lembrar que o roteiro justifica determinadas atitudes da esposa por uma visita anterior à cabana (quando ela foi com o filho escrever um livro). Só que aí que talvez resida a falha: é difícil engolir o caminho que leva os personagens a essa espiral de loucura sem compreender a natureza malévola (se é que isso veio da natureza) da floresta.
Muito mais (ou menos) que um terror, “Anticristo” parece ser sim, apenas um drama de proporções catastróficas, o que não diminui de maneira nenhuma seu impacto. Principalmente com as revelações surpreendentes sobre as circunstâncias da morte do filho. Mas passa a simples impressão de que a mulher era realmente uma louca. Lógico que seu epílogo em nada ajuda na compreensão do que foi visto, mas provavelmente não era essa a idéia.
Talvez o filme verse sobre como a natureza, mesmo que de forma involuntária, exerça uma influência sobre o ser humano e que, dependendo do estado deste pode despertar o melhor ou o pior dentro de dele. Mas a certeza está apenas na mente de Von Trier. Ou não.
[rating:3.5]
Ficha Técnica
Elenco:
Charlotte Gainsbourg
Willem Dafoe
Direção:
Lars von Trier
Produção:
Meta Louise Foldager
Eric Fellner
Fotografia:
Anthony Dod Mantle