Uma interessante história real sobre uma das maiores descobertas arqueológicas da Europa – conhecida como escavação de Sutton Hoo – próximo à 2ª Guerra Mundial é enfocada numa abordagem humanista.
Baseado no livro homônimo de John Preston, conhecemos Edith (Carey Mulligan de “Bela Vingança”) uma jovem senhora com uma delicada condição cardíaca que herdou de seu marido uma grande propriedade e seu sonho era escavar os pequenos morros que lá se encontravam. Então ela contrata um matuto, mas grande conhecedor de solos, Basil (Ralph Fiennes de “Um Mergulho no Passado”). Ao descobrir um grande tesouro arqueológico, eles despertam a cobiça dos principais museus do país, mas ainda tem muitas questões intimistas para resolver.
Só o show que Ralph Fiennes dá como o truncado personagem de bom coração já serve de motivo suficiente para apreciar a obra. Tanto Mulligan quanto o elenco coadjuvante está ajustadíssimo, mas Fiennes veio imbatível e com um carisma fora da curva.
Outros dois pontos fortíssimos é a fotografia Mike Eley de “Minha Prima Raquel” que não só escolhe os melhores ângulos e locações, como usa as lentes para focar ou desfocar planos de acordo com o contexto do personagem ou história; e também a trilha sonora emocionante do desconhecido Stefan Gregory que arranca lágrimas rumo ao desfecho. Um artifício que se combina com ambos, somado com a condução do diretor Simon Stone é quando um diálogo está ocorrendo enquanto cenas do passado ou futuro passam na tela, finalizando no arco do diálogo inicial.
O ponto fraco da narrativa que dura pouco mais de duas horas é a subtrama envolvendo o casal de arqueólogos Stuart e Peggy Piggott – Ben Chaplin de “Virgínia” e Lily James de “Yesterday” – que culmina num triângulo amoroso com o primo de Edith, Rory (o cantor Johnny Flynn que também esteve em “Emma”): os eventos eclipsam totalmente a linha principal entre Edith e Basil e a própria escavação para destacar um romance clichê e previsível que, mesmo contado de forma correta, parece ser uma pedra no caminho da narrativa original.
“A Escavação” tem um nível técnico e de atuação elevadíssimo e algumas ótimas sacadas da direção que, não fosse pelo tropeço de querer abraçar mais de uma história, teria grandes chances de indicações a prêmios. Ainda assim, muito recomendado.
Curiosidades:
– Ralph Fiennes nasceu na mesma região onde ocorreram esses eventos e na época de escola, estudou projetos arqueológicos sendo um deles, o que foi retratado no filme.
– O salário de Basil que nunca foi mostrado foi de 30 shillings por semana, o equivalente a R$ 1,55 semanais, bastante coisa para a classe pobre da época.
– O personagem Rory que se envolve no triângulo amoroso é ficcional. O Casal Piggot só se separou em 1954 na realidade, apesar dos eventos terem acontecido em 1939. Aliás, no filme é mostrado o casal como acabado de chegar de sua lua de mel, quando na verdade eles se casaram em 1936, três anos antes.
– Carey Mulligan estava com 34 anos durante as filmagens, enquanto a verdadeira Edith tinha 56 anos em 1939. Ralph Fiennes é 23 mais velho que Carey Mulligan, mas na realidade seu personagem Basil era 5 anos mais novo que Edith.
– Peggy Piggott é a tia do autor do livro John Preston.
Ficha Técnica
Elenco:
Ralph Fiennes
Carey Mulligan
Ben Chaplin
Lily James
Johnny Flynn
Stephen Worrall
Danny Webb
Archie Barnes
Robert Wilfort
James Dryden
Joe Hurst
Paul Ready
Peter McDonald
Christopher Godwin
Ellie Piercy
Bronwyn James
Monica Dolan
Arsher Ali
Eamon Farren
Amelia Stephenson
Direção:
Simon Stone
Produção:
Carolyn Marks Blackwood
Murray Ferguson
Gabrielle Tana
Ellie Wood
Fotografia:
Mike Eley
Trilha Sonora:
Stefan Gregory
