O diretor oscarizado por “O Discurso do Rei” Tom Hooper fez uma fidelíssima transposição da obra teatral “Os Miseráveis” para o cinema. Efeitos especiais monumentais e interpretações viscerais denotam a carga emocional que o elenco entregou.
Como musical que é, o espectador primeiramente vai se defrontar desconfortável com os primeiros diálogos entre o presidiário Jean Valjean (Hugh Jackman de “Gigantes de Aço”) e o Inspetor Javert (Russell Crowe de “72 Horas”), visto que todo o filme é cantado. Mas depois o desconforto passa enquanto vemos a jornada Valjean que foge de sua condicional, transforma-se num homem bem sucedido devido a uma graça divina, resgata uma criança chamada Cozette de um casal de trapaceiros depois da morte de sua mãe Fantine, cria essa menina e vê ela se transformar numa encantadora jovem que há de se apaixonar por um revolucionário prestes à eclosão da Revolução Francesa.
Tudo isso ao som de belas músicas com design de produção e coreografia impecáveis. Se somarmos o fato de que os atores realmente cantaram ao vivo nas suas performances, temos uma produção não menos do que memorável. Anne Hathaway, a Mulher-Gato de “O Cavaleiro das Trevas Ressurge”, que interpreta a trágica Fantine, passa apenas 15 minutos em cena e é o suficiente para ganhar o Oscar de melhor atriz coadjuvante. Nem precisava. Basta a sequência dela cantando “I dreamed a dream” que a premiação era praticamente imediata.
Com tantos predicados felizes e talvez ímpares, ainda assim a produção tem um sério problema com o ritmo narrativo derivado justamente da fidelidade com a peça de teatro. Como no original dos palcos, o espetáculo é dividido em atos e cada ato tem um clímax, o diretor replicou essa senóide de clímax para a telona e o resultado, já se aproximando das duas horas começa a ficar cansativo, passando a toda hora a impressão de um desfecho definitivo e acumulando ainda mais conteúdo. É provável que o espectador comercial que já não tenha tamanho interesse no gênero musical, saia do cinema fadigado com todos os 158 minutos por mais bem trabalhados que sejam.
Não dá pra negar que “Os Miseráveis” possa ser uma obra memorável, entretanto nem o fator épico pode conseguir segurar o interesse do espectador, dependendo do quão paciente ele vai ser.
Ficha Técnica
Elenco:
Hugh Jackman
Russell Crowe
Anne Hathaway
Amanda Seyfried
Sacha Baron Cohen
Helena Bonham Carter
Eddie Redmayne
Aaron Tveit
Samantha Barks
Daniel Huttlestone
Direção:
Tom Hooper
Produção:
Tim Bevan
Eric Fellner
Debra Hayward
Cameron Mackintosh
Fotografia:
Danny Cohen
Trilha Sonora:
John Powell