A ascensão do Wikileaks, site que até hoje vaza denúncias documentadas de segredos de países que já levou bancos a fecharem por evasão de divisas, genocídias e manipulações praticadas nos regimes ditatoriais da África e ao grande escândalo envolvendo as forças armadas americanas na Guerra do Afeganistão , que teve como consequência uma caçada ao seu fundador Julian Assange, hoje vivendo em asilo político no Equador.
Entretanto, o filme de Bill Condon das duas partes da “Saga Crepúsculo – Amanhecer” fala com igual intensidade da relação entre Assange (Benedict Cumberbatch de “12 Anos de Escravidão”) e seu primeiro discípulo Daniel (Daniel Brühl de “Rush – No Limite da Emoção”), de como ela foi construída por se acreditar num ideal e destruída quando ninguém mais distinguia que ideal era esse.
A química dessa relação é muito bem orquestrada pela dupla de protagonistas, sendo que Cumberbatch em particular, dá um show com a as camadas emocionais de Assange e seus maneirismos meticulosamente calculados, como seu sorriso obviamente falso, seu muxoxo manipulador, seu ego e sua busca por aceitação ao mesmo tempo que se força a esconder seus segredos pessoais.
O mesmo não se pode dizer da direção de Condon. Provavelmente infectado pelo vírus vampírico que fez as últimas partes de “Crepúsculo” o filme mais arrastado de todos os tempos, aqui ele mais uma vez demora uma eternidade (traduzindo: 128 minutos) para narrar a história, enchendo-a de subtramas que não vão a lugar nenhum e ainda soam incoerentes. Por exemplo, a trama que gasta atores como Laura Linney (“O Enviado”), Stanley Tucci (“Jogos Vorazes”) e Anthony Mackie (“Aposta Máxima”) tanto na caçada a Assange, quanto na fuga de um possível alvo, não só poderia ser editada para um décimo de sua duração original, como também é totalmente dispensável.
Outra incoerência são as tantas viagens do protagonista no primeiro ato, sendo que o próprio não teria dinheiro nem para comprar um servidor de redundância para o site. Pra piorar, o diretor deve ter visto o resultado moroso e tratou de incorporar o falecido Tony Scott (“Incontrolável”) e resolveu editar o filme como se fosse um clipe musical, o que o tornou extremamente poluído e desnecessário. Foi pelo caminho inverso: ao invés de cortar, acrescentou.
“O Quinto Poder” que poderia ser uma grande obra, acaba se diluindo nos delírios do diretor, porém ainda vale pelas ótimas interpretações.
Ficha Técnica
Elenco:
Benedict Cumberbatch
Daniel Brühl
David Thewlis
Moritz Bleibtreu
Carice van Houten
Laura Linney
Anthony Mackie
Stanley Tucci
Jamie Blackley
Ludger Pistor
Alicia Vikander
Michael Kranz
Peter Capaldi
Direção:
Bill Condon
Produção:
Steve Golin
Fotografia:
Tobias A. Schliessler
Trilha Sonora:
Carter Burwell