Moonlight: Sob a Luz do Luar (“Moonlight”)

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Dá pra resumir o vencedor do Oscar 2017 em duas palavras: humanidade e lirismo. Conta uma história simples, mas profunda, com uma estética poética que se aproveita do próprio contexto para criar belas imagens.

Dividido em três atos, a narrativa nos conta a história de Chiron na infância, adolescência e idade adulta – vivido por três atores desconhecidos diferentes – e que desde pequeno sentiu-se excluído do mundo, com sua mãe (Naomie Harris de “Beleza Oculta”) viciada em crack e acolhido por um traficante de bom coração da área (Mahershala Ali que também esteve em outro concorrente ao Oscar “Estrelas Além do Tempo”). Chiron não sabia, mas essa sensação de exclusão viria da sua futura opção afetiva: ele vai descobrir mais tarde que é gay, mesmo que para o público isso pareça ser latente desde o início.

E um dos grandes trunfos é a maneira de como essa característica sai do instinto para a consciência do protagonista, da inocência à percepção e de como Chiron usa artifícios mais tarde para maquiar sua própria natureza que invariavelmente tende a falar mais alto, mesmo que fuja dos constantes clichês do gênero. Essa inocência inclusive tem uma das cenas mais marcantes – vamos combinar que é a cena que fez Mahershala Ali ganhar seu Oscar de Melhor Ator Coadjuvante – quando Little (apelido do nosso herói ainda criança) pergunta à Juan (Ali) qual o vínculo que ele tem com a sua mãe.

O outro aspecto de destaque – o lirismo – retrata a maneira estética em que o diretor Barry Jenkins captura as imagens e passa suas mensagens, principalmente na composição de cores, onde chega a usar o personagem principal praticamente como uma pintura ou escultura quando contrasta seu rosto com sangue ou com o próprio ambiente. O mais interessante é que o fato do personagem ser negro jamais é visto com preconceito (repararam que não há personagens brancos no filme?) e ajuda a demonstrar que a cor está longe de ser o único segregador do ser humano. Transições que mostram o que passa pela cabeça de Chiron também são destaque, como no terceiro ato onde ele já adulto dirige em busca de um saudoso amigo ao mesmo tempo em que a imagem mostra crianças felizes tomando banho de praia, remetendo o espectador ao primeiro ato quando Little aprendia a nadar.

Se há diversidade nas imagens, com direito à uma belíssima alusão do preto ao azul, também há na composição e nas músicas com um delicioso ecletismo conduzido por Nicholas Britell de “Um Estado de Liberdade”. Mesmo com tantas qualidades, percebemos um desfecho mais desacelerado e lacunas narrativas que poderiam ser melhor remendadas.

Moonlight” tem um tema fortíssimo que claramente pesou na decisão da Academia, até para justificar a culpa que ela sentiu pelas indicações de 2016, mas não deixa de ser um belíssimo filme e um merecido Oscar. Apenas acho que tinha opções onde o Oscar era ainda mais merecido como “La La Land” ou “A Chegada”.

Curiosidades:
– Na cena em que Juan ensinava Little a nadar, o ator Mahershala Ali estava realmente ensinando ao ator mirim Alex R. Hibbert a nadar, pois este ainda não sabia.
– Toda a parte de Naomie Harris no filme foi filmada em apenas 3 dias para não atrasar sua turnê de divulgação de “007 Contra Spectre”.
– Os três atores que interpretaram Chiron nunca se encontraram durante as filmagens. Segundo o diretor, isso foi proposital, porque ele quis que cada um construísse seu próprio personagem do zero com base no roteiro.
– A luz que pisca entre as transições dos atos é o timecode de uma câmera digital, só que fora de foco.
– É o vencedor do Oscar de melhor filme que teve o menor custo de todos os tempos, fazendo as correções inflacionárias. Sem essas correções, ele viria logo atrás de “Rocky – O Lutador”.
– A música que Chiron escuta dirigindo para Miami é Cucurrucucú Paloma, de Caetano Veloso.
– Tanto Mahershala Ali, quanto Janelle Monáe que interpretam um casal em “Moonlight” também estão no elenco de outro concorrente ao Oscar, “Estrelas Além do Tempo”.

Ficha Técnica

Elenco:
Mahershala Ali
Naomie Harris
Janelle Monáe
Ashton Sanders
Alex R. Hibbert
Shariff Earp
Trevante Rhodes
Stephon Bron
André Holland
Duan Sanderson
Jaden Piner
Rudi Goblen
Edson Jean
Patrick Decile

Direção:
Barry Jenkins

Produção:
Dede Gardner
Jeremy Kleiner
Adele Romanski

Fotografia:
James Laxton

Trilha Sonora:
Nicholas Britell

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