O diretor Ti West conseguiu algo muito interessante na sua trilogia “X” formado por “X – A Marca da Morte”, “Pearl” e agora “MaXXXine”: estabelecer um universo com filmes que com histórias de certa forma independentes entre si, que podem caminhar sozinhas, mas que, no contexto da trilogia como um todo, ela se potencializa muito mais.
Se formos contar a premissa como independente temos que na década de 80, Maxine Myx (Mia Goth), ex-atriz pornô, tenta um lugar na fama de Hollywood ao ser selecionada para um filme de terror. Uma série de assassinatos que está ocorrendo na cidade, pode ter relação com o misterioso passado de Maxine e ela própria pode estar correndo perigo.
O tal passado é descrito de forma sucinta e suficiente na própria produção, mas fica muito mais interessante quando se sabe que foram os fatos de “X – A Marca da Morte” quando ela foi a única sobrevivente de um massacre.
A estética da obra lembra em muito as melhores parcerias de Quentin Tarantino com Robert Rodriguez, sendo totalmente oitentista e editado com câmeras e aparelhagem da época, numa forte aproximação ao terror “exploitation”.
Outra proximidade de West com Tarantino e Rodriguez é que o filme não se enquadra necessariamente em um gênero: guarda um pouco de terror, mas também se mistura com suspense policial, tem ótimas sacadas humorísticas (a cena da cruz no olho é ótima), além de uma belíssima homenagem a Hollywood, como por exemplo o filme dentro do filme “Puritana 2” e o imortal Bates Motel do clássico “Psicose”.
Mais do que estética, abordagem e contexto, a história é ótima (a melhor da trilogia), funciona muito bem sozinha e se encaixa direitinho como último capítulo, além de ter várias rimas narrativas referências indiretas a muitos momentos dos filmes antecessores na franquia.
Sem contar que Mia Goth que já havia mostrado a que veio, principalmente em “Pearl”, aqui também arrasa, como a protagonista que está longe de ser uma mocinha, mas que é segura de si e confiante para resolver seus problemas e, de quebra, desvendar o mistério.
Finalmente a trilha sonora é sensacional com o melhor da década de 80, passando por Self Control da Laura Baningan, Bette Davis Eyes da Kim Carnes, Shellshock do New Order, e muito mais. Taí uma playlist que vale muito a pena.
“MaXXXine” é o melhor filme da trilogia “X” com a melhor história, melhor elenco e exibindo uma diversidade de camadas narrativas com uma estética vintage cativante.
Curiosidades:
- No final do filme dentro do filme “A Puritana”, os créditos passam com o rosto da protagonista congelada. Em “Pearl” acontece o mesmo, só que com o rosto de Mia Goth (só que ao invés da tela congelar, ela fica parada com a mesma cara).
- Há uma cena em que Maxine apaga o cigarro na calçada da fama na estrela da atriz Theda Barra, que foi a inspiração de Pearl para o nome de seu crocodilo na fazenda e que aparece nos dois primeiros filmes.
- No início aparece a cena de Maxine criança dançando. Essa dança é a mesma que Pearl faz em um determinado momento da sua audição no filme anterior.
- Nos 3 filmes há a menção da expressão “fator X” que é aquele algo mais ou diferencial de um artista para ele ser o escolhido para a fama.
- Há uma cena em que Maxine corta fileiras de cocaína com seu recém adquirido cartão da Sindicado dos Artistas dos EUA (Screen Actors Guild, conhecido como SAG).
***SPOILERS – SÓ LEIA APÓS TER VISTO O FILME***
- Quando Maxine descobre que o assassino é seu pai, há um filme passando na parede dele como pastor falando da filha dele desaparecida. É o mesmo filme que passa na última cena de “X – A Marca da Morte” quando a polícia chega na fazenda no dia seguinte. Ou seja, o roteiro das 3 partes já estava escrito desde o início.
Ficha Técnica:
Elenco:
Mia Goth
Kevin Bacon
Elizabeth Debicki
Sophie Thatcher
Michelle Monaghan
Lily Collins
Bobby Cannavale
Halsey
Giancarlo Esposito
Simon Prast
Chloe Farnworth
Brad Swanick
Uli Latukefu
Susan Pingleton
Moses Sumney
Zachary Mooren
Ned Vaughn
Marcus LaVoi
Taylor Kowalski
Direção:
Ti West
História e Roteiro:
Ti West
Produção:
Mia Goth
Jacob Jaffke
Harrison Kreiss
Kevin Turen
Ti West
Fotografia:
Eliot Rockett
Trilha Sonora:
Tyler Bates
