Lincoln
Ontem à noite conheci Abe. É como os amigos chamam Abraham Lincoln. Ele é um cara bacana. Sério. Super gente boa. Apesar de estar meio acabado, quase sempre está lá sorrindo e pronto pra contar uma história edificante, daquelas que a gente lê em livro de auto-ajuda. Isso é até uma mania. É só ele se sentar que vem uma. Teve até uma hora quando eu estava conhecendo melhor essa figura que um amigo dele, do outro lado da tela, disse que não aguentava mais essa sua mania. Fiquei calado pra não ser mal educado, mas apesar das mensagens bonitas, essas histórias já estavam enchendo o saco.
Assim… Abe é um contador de histórias. Mas no seu tempo livre ele também foi o Presidente dos EUA (ah, ele não foi um caçador de vampiros). E dentre outras atribuições que nunca apareceram nessas minhas duas horas e pouco de convivência, aparentemente ele tinha dois compromissos: acabar com a escravidão e vencer a guerra civil americana que já se arrastava há quatro anos.
Sei pouco sobre os pais dele, mas conheço bem o pai dele nessa encarnação cinematográfica. Chama-se Steven Spielberg, o qual divide sua carreira em brilhantes filmes para a família, deste “ET – O Extraterrestre”, passando por “Indiana Jones” e até o mais recente e ótimo “As Aventuras de Tim Tim”; e também em filmes sérios, começando muito bem com “O Império do Sol” e a “Lista de Schindler”, mas com alguns baixos, sendo o recente “Cavalo de Guerra” o mais negativo. Infelizmente aqui ele repete este último em quase todos os aspectos.
Irrepreensível nos aspectos técnicos, a ponto de recriar com perfeição os cenários, vestimentas e eventos da época. O elenco também se destaca com Daniel Day-Lewis (“Nine“) abocanhando as óbvias indicações de melhor ator, mesmo já tendo desempenhos melhores como em “Sangue Negro”. A ótima surpresa fica por conta de Sally Field (“O Espetacular Homem-Aranha”) como a esposa de Lincoln numa performance arrasadora.
Contudo, a linha narrativa do filme chega a ser extenuante e muitas vezes beira o teatral com monólogos contendo mensagens manipuladores beatificando o personagem do presidente, como se Spielberg quisesse glamourizar ao máximo a existência de Lincoln e usando a trilha sonora de John Williams quase como um jogo sujo e que pouco convence. A realidade mais dura é mostrada de relance numa cena (ótima, diga-se de passagem) de uma briga entre ele e a esposa. O golpe final de canonização é no desfecho com a imagem de seu discurso por dentro da chama de uma vela.
Ficou tão latente o tal direcionamento do diretor que até apaga o personagem principal sendo mais divertido acompanhar seus coadjuvantes que além de Fields, conta com o perfeito Tommy Lee Jones (MIB3 – Homens de Preto) como um entusiasta da abolição da escravatura, cuja história chega em certos pontos ser mais interessante que a trama principal; ou com o engraçadíssimo James Spader (“A Pedra Mágica”) como um mercenário que se alia ao comitê de Lincoln para comprar votos a favor da assinatura da 13ª emenda.
Numa avaliação final, todos os pontos altos se referem a tramas e personagens paralelos (mas importantes), enquanto a maioria dos pontos baixos se referem a história central o que acaba dando certo peso negativo no resultado. “Lincoln” acaba sendo um filme mediano, apesar ter um pouco de história com muita licença poética e belas atuações. Não mais que isso.
Ficha Técnica
Elenco:
Daniel Day-Lewis
Sally Field
David Strathairn
Joseph Gordon-Levitt
James Spader
Hal Holbrook
Tommy Lee Jones
John Hawkes
Jackie Earle Haley
Bruce McGill
Tim Blake Nelson
Joseph Cross
Jared Harris
Lee Pace
Peter McRobbie
Gulliver McGrath
Gloria Reuben
Jeremy Strong
Michael Stuhlbarg
Boris McGiver
David Costabile
Stephen Spinella
Walton Goggins
David Warshofsky
Colman Domingo
David Oyelowo
Lukas Haas
Dane DeHaan
Carlos Thompson
Bill Camp
Elizabeth Marvel
Byron Jennings
Julie White
Direção:
Steven Spielberg
Produção:
Kathleen Kennedy
Steven Spielberg
Fotografia:
Janusz Kaminski
Trilha Sonora:
John Williams