É tipo “A Mulher na Janela” só que com uma Alexa, ou melhor uma Kimi.
Essa nova experiência do cineasta Steven Soderbergh de “A Lavanderia”, traz a gatona e mulher-gato Zoë Kravitz como Angela que, dentre muitos distúrbios psicológicos por um passado que ainda vamos descobrir, também sofre de Síndrome do Pânico e Agorafobia, o que não a deixa sair de casa. Ela trabalha com curadoria de áudios de um aparelho chamado Kimi, análogo a uma Alexa. Quando um dos áudios parece conter as provas de um assassinato, ela precisa avisar as autoridades, só que mal sabe que a própria empresa para qual trabalha está envolvida.
É um dos poucos filmes que não só sinalizam sobre a pandemia, como também traz as consequências de efeitos como lockdown para seus personagens.
Um dos detalhes que chama atenção e que é tão interessante quanto incômodo é a própria construção da protagonista, pois na primeira metade do filme, ela se mostra arrogante, pedante, quase intragável (sim, por conta de seus problemas psicológicos), o que dá vontade de torcer contra. Entretanto, não deixa de ser verdade que até gente ruim (que não é bem o caso dela) pode se encontrar numa situação em que esteja com a razão e precise de ajuda.
Soderbergh coloca algumas técnicas experimentais interessantes na produção: repare que a câmera se move normalmente quando Angela está dentro de seu apartamento, mas quando ela sai, as imagens parecem ficar rotacionando, demonstrando como sua mente “lê” o mundo exterior a partir de sua condição mental.
A trilha sonora de Cliff Martinez de “Hotel Artemis” vai na contramão do suspense, fazendo parte dessa experimentação, onde os acordes soam como a própria tecnologia intrínseca ao aparelho Kimi e deve dividir opiniões.
Se o terceiro ato é o mais interessante, talvez tenha faltado mais consistência na história: o próprio suposto crime não traz a motivação do antagonista, como se fosse apenas um gatilho para o resto da trama, mas que sem explicação fica um tanto vazio; e o passado de Angela, mesmo que tenha sido esclarecido, é apenas um momento rápido, sendo logo esquecido depois. Inclusive o desfecho acaba sendo simplista ao lidar com esses problemas da personagem.
“Kimi” é um suspense que engrena a partir da metade, tem boas técnicas, alguns ótimos momentos, mas sem uma base mais sólida para sustentar os personagens.
Curiosidades:
– A voz de Kimi é da esposa do diretor Steven Soderbergh.
– Angela usa cabelos de cores diferentes no filme e eles tem relação com Kimi. Quando Kimi está azul é quando está ativa, e o cabelo de Angela fica azul quando está com os problemas psicológicos; quando Kimi está no modo suspenso (ou sleep = dormindo), sua cor é rosa, e o cabelo de Angela fica Rosa quando ela se desprende dos problemas.
Ficha Técnica
Elenco:
Zoë Kravitz
Rita Wilson
Devin Ratray
Robin Givens
Alex Dobrenko
Erika Christensen
India de Beaufort
Derek DelGaudio
Sarai Koo
Jaime Camil
Betsy Brantley
Byron Bowers
Lakin Valdez
David Wain
Andy Daly
Jamie Baer
Emily Kuroda
Beka Sikharulidze
Direção:
Steven Soderbergh
Produção:
David Koepp
Michael Polaire
Fotografia:
Steven Soderbergh
Trilha Sonora:
Cliff Martinez