Capitão Fantástico (“Captain Fantastic”)

Se há algo melhor do que um filme que emocione é um que gere um conflito de emoções e justamente por isso “Capitão Fantástico” já é um dos destaques de 2016.

Viggo Mortensen que andava meio sumido desde “Na Estrada” é Ben, pai de seis crianças que junto com a esposa, tomaram a decisão de morar numa fazenda isolada, num modo de vida alternativo como num protesto contra o capitalismo sendo tutores de suas próprias crias. E nesse método pouco ortodoxo, seus filhos foram educados.

Quando sua esposa fica doente e vem a falecer, ele resolve ir pra cidade levar os filhos para o funeral, mesmo contra a vontade do sogro (o sempre correto Frank Langella de “A Grande Escolha”). Nessa viagem as crianças terão contato pela primeira vez com os costumes ocidentais (que para nós é normal) e, junto com o espectador, começam a se questionar se o pai realmente faz ou não bem a elas.

O tema não só é original no tratamento dado, como de imensa relevância, visto que a educação forma os jovens e aqui é encenado com seriedade, fazendo com que o público tenha sentimentos às vezes contraditórios em determinados momentos. Ao ver crianças intelectualizadas e enfrentando desafios que as fazem talvez até correr perigo de vida, mas ainda assim são reconhecidamente felizes, há algo de paradoxal e o diretor expõe isso na medida certa, principalmente após a metade da produção onde há um claro confronto entre esse método alternativo e o chamado normal capitaneado pelo sogro de Ben.

Mortensen conseguiu uma atuação na medida tão certa que fica difícil não se emocionar com suas reações, hora exacerbadas, hora contidas com aquela melancolia escondida ou com a reflexão se tudo não foi um erro. O elenco infantil então surpreende, das criancinhas sensacionais, até os jovens, capitaneados pela carismática Annalise Basso de “Ouija: A Origem do Mal” e George MacKay de “Minha Nova Vida”.

Outra gratíssima surpresa é saber que esse é o longa de estréia do diretor e também ator Matt Ross (“O Aviador”), pois a narrativa é exposta com bastante fluidez e jamais é carregada num dramalhão ou descamba para uma mera comédia. Faz uma transição entre drama familiar e road movie de forma natural e, junto com o diretor de fotografia Stéphane Fontaine (“72 Horas”) usa luz natural e lentes especiais para captar uma luminosidade quase etérea em seus enquadramentos e compõe junto com a trilha de Alex Somers (“Sob o Mesmo Céu”) belíssimas tomadas. Inclusive tem uma das versões mais bonitas de Sweet Child o’Mine dos Guns’n’Roses.

Talvez a grande sacada do roteiro é sua ironia e poucos vão perceber, por exemplo, que o sobrenome de Ben é Cash (dinheiro em português), justamente o símbolo do capitalismo contra o qual nosso protagonista luta. Essas e outras pérolas, mais uma condução resoluta e um elenco adorável, fazem de “Capitão Fantástico” um dos filmes obrigatórios desse ano e permanece como um verdadeiro tratado das relações humanas.

Curiosidades:
– O terno que Viggo Mortensen entra na igreja ele mesmo usou em 1991 no filme “Unidos Pelo Sangue”.
– Em várias cenas, Ben é visto tomando mate que é a bebida favorita de Viggo Mortensen que ele conheceu nos anos em que morou na Argentina.

Ficha Técnica

Elenco:
Viggo Mortensen
George MacKay
Samantha Isler
Annalise Basso
Nicholas Hamilton
Shree Crooks
Charlie Shotwell
Trin Miller
Kathryn Hahn
Steve Zahn
Elijah Stevenson
Teddy Van Ee
Erin Moriarty
Missi Pyle
Frank Langella

Direção:
Matt Ross

Produção:
Monica Levinson
Jamie Patricof
Shivani Rawat
Lynette Howell Taylor

Fotografia:
Stéphane Fontaine

Trilha Sonora:
Alex Somers

Avaliações dos usuários

Não há avaliações ainda. Seja o primeiro a escrever uma.

Avalie o filme

Share on whatsapp
Share on facebook
Share on twitter
Share on linkedin
Share on email
Share on telegram