https://www.youtube.com/watch?v=Wd5XugFD-lc
A Netflix anda fazendo um estardalhaço sobre esse filme e não é pra menos: com um budget de U$ 90 milhões, é o filme mais caro produzido pela companhia. Talvez por conta disso, é uma das poucas vezes que tenho escutado muitas opiniões sobre o filme antes de assisti-lo. Elas variam entre o ótimo e o péssimo, mas – agora em retrospecto – parece-me que a maioria das pessoas está gostando ou desgostando pelos motivos errados.
A primeira barreira que temos que quebrar: aceitar que o filme é uma mistura de “Marcados Para Morrer” e “Senhor dos Anéis” (se não conhece “Marcados para Morrer”, assista, mas para efeito de comparação, pode trocar com o clássico “Dia de Treinamento”). Ou seja, o filme já estabelece uma realidade alternativa onde as cidades são povoadas por humanos, orcs, anões, elfos, fadas e afins inseridos numa trama policial urbana.
A produção tem tanta ação que uma das primeiras coisas – e muito interessantes – que é estabelecida na trama é o racismo que a sociedade vive e como os estereótipos dominam a mente de todos: os elfos são os riquinhos e arrogantes, os orcs sempre maus e bandidos, enquanto os humanos parecem uma raça semi-dominante, cujo equilíbrio fica constantemente ameaçado. Assim, é deliciosamente irônico que a dupla de policiais que protagoniza o filme é um negro que tem um preconceito contra seu parceiro, um orc, tido como traidor pelos seus pares de espécie e que entrou para a polícia num programa de cotas para diversidade. Logicamente os humanos o enxergam como uma ameaça à própria corporação.
Will Smith de “Beleza Oculta” e Joel Edgerton de “Ao Cair da Noite” são respectivamente o humano Ward e o Orc Jakoby e vão atender um chamado de distúrbio doméstico. Só que eles encontram uma conspiração para trazer de volta um tal senhor das trevas orquestrada pela elfa do mau Leilah (Noomi Rapace de “Onde Está Segunda?”) e assim devem proteger uma varinha mágica enquanto passam a noite implacavelmente sendo perseguido por todas as espécies possíveis.
Ainda falando sobre o racismo, a emblemática cena inicial entre Ward e uma fada é essencial para entendermos o valor que se dá a uma vida quando está não obedece aos padrões que a sociedade impõe para os direitos humanos (por humanos, pode trocar para qualquer outra espécie). Com essa leitura, fica muito mais interessante o desenvolvimento onde o diretor David Ayer – que recentemente trabalhou com Smith em “Esquadrão Suicida” – imprime um ritmo quase que alucinante com cenas de ação muito bem coreografadas e consegue fazer com que a magia desse mundo se acomode muito bem nessa ação urbana, aliás uma mistura que, bem feita, é essencial para a qualidade da obra.
Smith atua no piloto automático no tipo de interpretação que ele conhece bem como o policial descolado e engraçado que a gente aprendeu a gostar desde “Bad Boys”, enquanto Edgerton se destaca na complexa persona criada pelo seu orc, ao mesmo tempo bem-humorado, mas também dramático por entender seu lugar como uma minoria discriminada.
A condução tem uma séria derrapada no confronto do último ato, pois além de previsível, não é consistente com os acontecimentos visto nos atos anteriores. Por outro lado, para o desfecho, talvez não houvesse outra opção.
“Bright” é disruptivo e quase original (quase porque a essência se parece muito com “Missão Alien” de 1988), onde não dá pra reclamar de ação e constrói um interessante mundo que deve ainda gerar várias outras histórias. E a continuação já está a caminho.
Curiosidade: A canção de amor dos orcs na verdade é a música de heavy metal “Hammer Smashed Face” pela banda Cannibal Corpse.
Ficha Técnica
Elenco:
Will Smith
Joel Edgerton
Noomi Rapace
Edgar Ramírez
Lucy Fry
Veronica Ngo
Alex Meraz
Happy Anderson
Ike Barinholtz
Dawn Olivieri
Matt Gerald
Margaret Cho
Joseph Piccuirro
Brad William Henke
Jay Hernandez
Direção:
David Ayer
Produção:
David Ayer
Eric Newman
Ted Sarandos
Bryan Unkeless
Fotografia:
Roman Vasyanov
Trilha Sonora:
David Sardy