Apenas duas coisas são relevantes o suficiente para se assistir a essa produção australiana. E nenhuma delas é Kate Winslet (“Refém da Paixão”).
Mas vamos por partes: ela é a protagonista, Tilly, agora uma costureira brilhante que retorna à sua cidadezinha – um ponto isolado no deserto australiano – depois de muitos anos para acertar as contas por uma aparente injustiça.
Que bom seria se essa sinopse traduzisse a realidade. A adaptação que o roteiro fez do livro de Rosalie Ham parece deixar a coerência de lado e as escolhas Jocelyn Moorhouse mais complicam que explicam. Quem vê o filme, entende depois de meia hora que Tilly aparentemente não sabe porque voltou. Aliás, faz questão em vários momentos de justificar coisas desconexas. Apesar da raiva, não foi por vingança, a não ser a circunstancial (sem spoilers); Não foi para achar o amor da vida dela ou para acabar com uma maldição que ninguém entende porque ela diz ter; e sendo assim também não foi pela sua moribunda mãe.
E é justamente a mãe interpretada por Judy Davis (“Para Roma com Amor”) é o primeiro ponto alto do filme. Sua interpretação vai do drama à comédia sem esforço algum e com toda a naturalidade. É a caricatura mais humana da cidadela. Isso porque todos os personagens são espécies de caricaturas, o que não é ruim e é assim no livro. A outra caricatura que é deliciosamente engraçada e é o segundo grande motivo para alguém arriscar ver a obra responde pelo grande Hugo Weaving (“Até o Último Homem”) como o policial gay crossdresser que exala carisma ao mesmo tempo que carrega uma imensa culpa pelo passado.
Mas é só. Kate Winslet é sim uma ótima atriz, mas com um personagem que não sabe o que quer e como vai chegar lá simplesmente vai revezando entre vítima singela e rainha arrogante da moda. E não só ela: toda a população de personagens caricatos mudam de motivação a cada ato sem a menor explicação que se houvesse uma dinâmica peculiar e inexplicável ou alguma realidade paralela sobre a qual os realizadores esqueceram de mencionar ao público.
Finalmente, a produção se fia em pequenos arcos dramáticos que são bem construídos, mas sempre incompatíveis entre si e com a trama principal, como se entre eles houvesse uma edição maligna que nos impedisse de conectar sequer metade de uma narrativa à outra.
“A Vingança Está Na moda” espalha pequenas histórias em torno de uma trama sem rumo que aposta no brilhantismo do elenco, que vale cada centavo, mas não consegue salvar o filme de ser apenas estranho com bons momentos.
Curiosidades:
– A cena em que Tilly e sua mãe tiravam as medidas do corpo másculo do interesse amoroso da protagonista, interpretado por Liam Hemsworth (do novo “Independence Day”), demorou horas para ser feita porque as atrizes não paravam de rir.
– O modelo da máquina de costura usada por Tilly é considerado como um dos melhores de todos os tempos por estilistas e especialistas.
– O vestido vermelho que Tilly usa em uma das cenas foi feito com um tecido achado em Milão há mais de 25 anos.
Ficha Técnica
Elenco:
Kate Winslet
Judy Davis
Liam Hemsworth
Hugo Weaving
Sarah Snook
Alison Whyte
Julia Blake
Shane Bourne
Kerry Fox
Rebecca Gibney
Caroline Goodall
Gyton Grantley
Tracy Harvey
Sacha Horler
Shane Jacobson
Geneviève Lemon
James Mackay
Direção:
Jocelyn Moorhouse
Produção:
Sue Maslin
Fotografia:
Donald McAlpine
Trilha Sonora:
David Hirschfelder