A 100 Passos de Um Sonho (“The Hundred-Foot Journey”)

Um filme de culinária onde uma família de indianos imigrantes chega à França e, sem dinheiro, tem seu carro quebrado perto de uma pequena vila. Bons de cozinha, eles abrem um restaurante indiano que curiosamente fica do outro lado da rua (a 100 passos) do melhor restaurante da cidade, comandado pela rígida Madame Mallory (Helen Mirren de “Trumbo – Lista Negra”). Assim, a guerra está formada, enquanto o filho mais velho da família Hassan (Manish Dayal) se apaixona pela subchefe do restaurante da frente, Marguerite (Charlotte Le Bom de “A Travessia”).

Só que esse não é um filme qualquer sobre gastronomia. É produzido por ninguém menos que Steven Spielberg (que dispensa apresentações) e dirigido pelo craque em filmes emotivos Lasse Hallström, o qual já adaptou duas obras de Nicholas Sparks (pra vocês terem uma idéia): “Um Porto Seguro” e “Querido John”. Ele transforma o filme numa mistura de “O Exótico Hotel Marigold” com “Chocolate” (que ele próprio dirigiu em 2000).

O roteiro logicamente pisa fundo nas questões cômicas e dramáticas das diferenças entre indianos e franceses, mostrando sempre o contraponto com bom humor. A questão familiar, sempre presente nas produções tocadas pelas mãos de Spielberg é praticamente um dos centros da narrativa, desde a perda da mãe e pela busca de aprovação de Hassan, colocando Madame Mallory como uma espécie de sogra, mãe e madrasta ao mesmo tempo. E falando nela, se este não é a melhor performance da soberba Hellen Mirren nos últimos anos, pode-se dizer no mínimo que é o melhor papel que ela fez em muito tempo. É incrível como seus mínimos movimentos conseguem dizer tanto sobre o estado de espírito de Mallory: para citar apenas um dentro vários exemplos, há uma cena em que ela prova um prato e, de costas, o espectador consegue discernir o que ela achou do prato, apenas pela sua postura.

Contada de forma novelesca – afinal, a obra é baseada num best seller e tem duas horas de duração – o público sente as transformações que ocorrem na dinâmica entre os personagens, mas não sente o tempo passar, tamanho o carisma que eles passam pra tela, o que até compensa alguns lugares comuns do gênero que insistem em se repetir.

Outra marca registrada do diretor é ter sempre uma trilha sonora cativante e ele consegue mais uma vez com A.R. Rahman (“Bem Vindo à Vida”) e não raro, vez ou outra lágrimas podem brotar nos olhos dos mais sensíveis.

Tudo funciona em “A 100 Passos de um Sonho”, da história aos mínimos detalhes da técnica da culinária sem nunca se tornar moroso. Nunca seria uma produção de ganhar prêmios, mas nem precisa. Prêmio é assistir ao filme. Divide com “Chef” a melhor indicação de filme gastronômico dos últimos anos.

Curiosidades:

– Os restaurantes não ficam de frente pro outro. Eles foram colocados assim através de efeitos digitais e cenários falsos. Inclusive construíram 800 metros de estrada de asfalto para fazer a simulação.

– Numa determinada cena, o pai da família indiana zomba de Madame Mallory dizendo que ela fica em sua janela como uma rainha. Foi uma brincadeira do roteiro, pois Hellen Mirren já interpretou a própria rainha da Inglaterra em “A Rainha” (essa piada é feita com ela em vários filmes)

Ficha Técnica

Elenco:
Helen Mirren
Om Puri
Manish Dayal
Charlotte Le Bon
Amit Shah
Farzana Dua Elahe
Dillon Mitra
Aria Pandya
Michel Blanc
Clément Sibony

Direção:
Lasse Hallström

Produção:
Juliet Blake
Steven Spielberg
Oprah Winfrey

Fotografia:
Linus Sandgren

Trilha Sonora:
A.R. Rahman

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