https://www.youtube.com/watch?v=Z39s0W-ArzU
Seguindo a passagem bíblica onde Jesus vai ao deserto para meditar e se encontrar e acaba sendo confrontado pelo próprio Lúcifer, o filme dirigido pelo cineasta colombiano Rodrigo García (“Albert Nobbs”) traz uma abordagem mais que interessante onde Cristo e o Diabo, interpretados pelo mesmo Ewan McGregor (“Sangue Jovem”), dialogam e filosofam em suas diferentes posições: Jesus, convicto de ser filho de um Deus que ainda não viu e não experimentou e assim variando entre a insegurança e plena castidade, enquanto o cramulhão que já esteve sob as asas do Senhor e hoje sente inveja de Deus por Ele valorizar mais a própria humanidade do que seus anjos.
E a filosofia se aplica – com um jargão corporativo – no seguinte case: Jesus cruza com uma família no meio do deserto onde o pai (Ciarán Hinds de “Hitman: Agente 47”) se distancia cada vez mais do filho (Tye Sheridan, o Cyclope novinho de “X-Men: Apocalipse”), enquanto a mãe doente (Ayelet Zurer de “Ben-Hur”) definha cada vez mais.
O filho de Deus tem a chance de intervir, mas usar seus poderes para resolver essa peleja seria eticamente ideal? Essas e outras perguntas bastante inteligentes e reflexivas permeiam toda a narrativa, tornando a vida dessa família um jogo de xadrez para ambos os lados. Melhor ainda é que a natureza de Cristo praticamente nunca é revelada, dando apenas nuances de seus poderes. Tanto que um espectador cético poderia muito bem inferir que seu diálogo com seu duplo do mal é apenas sintomas de esquizofrenia e também se torna motivo de reflexão.
Apesar de toda a filosofia afiada, a execução parece sempre estar a um passo atrás. O discurso está lá, mas é moroso e se detém a pseudo contemplações que tem um efeito de diminuir o ritmo para tentar alcançar seus pouco mais de 90 minutos. Inclusive falha na fotografia que não logra em mostrar uma atmosfera de isolamento (com exceção do primeiro ato), o que enfraquece a narrativa.
“Últimos Dias no Deserto” funciona bem mais como discussão filosófica do que como peça artística, mas que ainda assim deve atrair cinéfilos autointitulados de cults. Vale a pena sim, mas não por todos os aspectos.
Ficha Técnica
Elenco:
Ewan McGregor
Ciarán Hinds
Ayelet Zurer
Tye Sheridan
Direção:
Rodrigo García
Produção:
Bonnie Curtis
Julie Lynn
Wicks Walker
Fotografia:
Emmanuel Lubezki
Trilha Sonora:
Danny Bensi
Saunder Jurriaans