https://www.youtube.com/watch?v=-PSM-kB3akI
A primeira encarnação de Lara Croft em 2001 e 2003 tinha Angelina Jolie como uma ode à personagem dos games com toda sua voluptuosidade, incluindo os seios fartos, “semelhante” (entre aspas mesmo) aos seios pontudos das baixas resoluções dos computadores da época. Era datado e tinha todos os exageros das duas décadas anteriores.
Com a tentativa de humanizar as histórias, escolheram sabiamente a aparentemente frágil Alicia Vikander (“A Luz Entre Oceanos”) que, como vencedora do Oscar, daria mais credibilidade ao papel. De certa forma sim: o início faz questão de mostrar Lara como uma pessoa normal até demais, mas com algumas habilidades básicas de luta e arco e flecha. Claro que essa “normalidade” vai ser desmentida nas quase duas horas seguintes com alguns absurdos clichês do gênero.
Ela parte em busca do pai, sumido há sete anos, e vai parar numa ilha onde o vilão com cara de vilão Vogel (Walton Goggins de “O Assassino de Mojave”) está tentando achar a tumba da rainha Himiku para libertar seus poderes e destruir o mundo. O que passa na tela é basicamente a adaptação de uma trama genérica de “Indiana Jones” para se adequar ao contexto de “Tomb Raider”.
O ponto positivo é que a essência da trama – sobre a rainha e a organização Trinity – é até muito boa. O ruim é que o diretor norueguês Roar Uthaug (“Presos no Gelo”) conseguiu recair em erros de condução e narrativa tão primários que quase reduziu à obra à sua estabanada antecessora.
Primeiro que, mesmo fazendo questão de mostrar a protagonista se quebrando todinha em várias cenas, ela parece ter um fator de cura comparável ao Wolverine, onde cada ferida feita e sentida, é praticamente esquecida cinco minutos depois.
As tomadas de decisão dos personagens são objeto de estudo, pois eles sempre conseguem piorar ainda mais sua situação enquanto o espectador fica se perguntando porque motivo eles decidiram seguir o caminho obviamente menos indicado. São decisões dignas de filme de terror B (vide a cena final com a escada, apenas para citar um exemplo).
Também há coisas inexplicáveis: se o pai de Lara desapareceu e foi morto ou preso na ilha, como ele conseguiu enviar de volta para seu escritório secreto um amplo material contendo um diário que descreve, não só a ilha como também o interior da tumba da rainha com riqueza de detalhes? Haverá Correios por lá? Como um personagem que afirma ter matado outro, na verdade não matou? (ele inclusive se surpreende quando o tal morto reaparece). Como ninguém se deu conta da empresa fachada de Trinity e seu cabeça quando parece tão óbvio no final e com direito a uma foto que, apesar de estar de costa, dá pra sacar na hora a identidade do mandante?
De resto, há uma repetição sistemática – como já citado – em situações chupadas de “Indiana Jones” com ênfase no tal tempo que parece ter as exatas mesmas armadilhas já vistas em vários momentos da saga dirigida por Steven Spielberg e estrelada por Harrison Ford. Dessa forma, a previsibilidade do que vai acontecer é constante: por exemplo, na cena inicial em que ela perde uma luta de treino devido a um golpe de sua adversária, já fica claro que lá na frente ela vai enfrentar esse mesmo golpe, valendo a sua vida. E assim vai.
“Tomb Raider” desperdiça uma trama funcional em prol de uma aventura descerebrada que acha que, por ter uma atriz de peso como protagonista, tudo mais seria permitido e ovacionado. Faltou a mão de um bom diretor.
Curiosidades:
– A trama é baseada na versão do jogo lançada em 2013.
– Alicia Vikander é fã de Lara Corft desde a infância.
– A arma que a personagem compra no final é o mesmo modelo usado pela Croft de Angelina Jolie no filme de 2003.
Ficha Técnica
Elenco:
Alicia Vikander
Dominic West
Walton Goggins
Daniel Wu
Kristin Scott Thomas
Derek Jacobi
Direção:
Roar Uthaug
Produção:
Graham King
Fotografia:
George Richmond
Trilha Sonora:
Junkie XL