T2 Trainspotting

Tinha que ter uma continuação de “Trainspotting”! E se essa continuação é boa, mas não chega aos pés do filme original, talvez seja justamente por causa da afirmação anterior, isto é, de um desejo tão grande de se ter uma continuação do cult que definiu a geração dos anos 90 que a história parece ter sido feita mais pelo hype do que pelo conteúdo. O que não deixa de ser imperdível para os fãs de Renton, Sick Boy, Spud e Begbie.

Vinte anos depois dos acontecimentos do primeiro filme, além de Begbie estar preso, Renton volta para Edimburgo e planeja um esquema pra abrir um prostíbulo com Simon/Sick Boy, que por sua vez, planeja passar o amigo para trás, enquanto Spud tenta se livrar do seu vício em heroína. Pelo lado do roteiro, como se pode ver pela sinopse, parece que tudo aconteceu há dias e não há vinte anos de tão pouco que os personagens mudaram psicologicamente. Não que isso fosse impossível, mas acaba acrescentando muito pouco em originalidade e possibilidades para a narrativa. Tanto que o aparente maior problema, dentre algumas intercorrências, é quando Begbie foge da prisão e promete acabar com a raça de Renton (caso não lembrem, ele roubou os amigos no final do primeiro filme e mandou Begbie pra prisão).

Claro que pra tentar equilibrar essa fragilidade, o diretor Danny Boyle usou sua genialidade para compor quadros que aumentam a nostalgia, como tomadas que até foram cortadas do antecessor para flashbacks com um timing e atmosfera que realmente fazem o espectador voltar no tempo com várias rimas visuais, além de roupagens ambientes da trilha antiga, como na intimista versão da imortal música techno do Underworld – Born Sleepy ou Lou Reed – Perfect day, além de mais uma vez contar com uma seleção impecável de músicas com destaque para Blondie tocando seu sucesso de 1979, Dreaming.

Para as tramas novas, consegue pelo menos momentos no mínimo pitorescos como por exemplo quando Renton faz seu monólogo “Escolha Viver” que inclusive está presente em um dos trailers, ou sobre as histórias que Spud escreve (veja um segredo nas curiosidades mais abaixo) ou ainda o frenetismo da edição que permanece de acordo com a dinâmica dos eventos e diálogos. E, como não podia deixar de ser, com todo esse ritmo acelerado, Boyle encontra momentos de puro lirismo como na cena em que, para expressar a saudade da mãe, a sala de jantar é povoada por Renton, seu pai e uma sombra que evoca a presença dela.

No balanço geral “T2” é um filme que acerta em cheio a geração dos anos 90 com uma gostosa nostalgia, mas num olhar frio está longe de ter a mesma relevância do primeiro filme e se coloca como uma comédia dramática apenas muito boa que reúne amigos queridos, mas com pouco assunto.

Curiosidades:

– As histórias escritas por Spud são todas, palavra por palavra, páginas do livro original “Transpotting” de Irvine Welsh.
– O autor escreveu a continuação de Transpotting chamado Porno em 2002, mas nessa época Ewan McGregor estava brigado com o diretor Danny Boyle, pois este dispensou o ator de “A Praia” para dar o papel de protagonista para Leonardo Di Caprio. Anos depois os dois se reconciliaram, mas já aí os atores já tinham uma idade que não condizia com o livro Porno. Então Boyle resolveu esperar anos para filmar a continuação num intervalo de vinte anos. Parte do roteiro contém elementos do primeiro livro que não foram explorados no filme anterior e poucos elementos de Porno, sendo grande parte, roteiro original.
– Robert Carlyle mora na mesma cidade onde o filme foi feito, mas mudou de casa, pois não queria expor a sua família a um papel tão violento e misógino como o de Begbie.
– No apartamento de Sick Boy dá pra ver uma cópia do DVD “Extermínio” também dirigido por Danny Boyle.
– A versão italiana é dublada pelo mesmo time que dublou o filme original há vinte anos.

Ficha Técnica

Elenco:
Ewan McGregor
Jonny Lee Miller
Ewen Bremner
Robert Carlyle
Anjela Nedyalkova
Kelly Macdonald
Steven Robertson
Shirley Henderson
Gordon Kennedy
James Cosmo

Direção:
Danny Boyle

Produção:
Bernard Bellew
Danny Boyle
Christian Colson

Fotografia:
Anthony Dod Mantle

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