Colocar Eli Roth (“Desejo de Matar”) para dirigir um filme família é como convidar Michael Myers para uma festa de crianças. Ainda assim, o resultado é razoável.
Baseado num livro infantil, a história mostra o menino Lewis (Owen Vaccaro de “Pai em Dose Dupla 2”) que ficou órfão e foi morar na estranha mansão do tio Jonathan (Jack Black de “Jumanji: Bem Vindo à Selva”) que também abriga a Sra. Zimmerman (Cate Blanchett de “Oito Mulheres e Um Segredo”).
Além de descobrir que a casa é mágica e seu tio e a amiga dele são feiticeiros, todos ainda tem que desvendar o tal mistério do relógio que pode ter sido uma magia negra feita pelo malvado mago Isaac (Kyle MacLachlan de “O Cheiro do Sucesso”) para destruir o mundo.
Roth não quis arriscar e se manteve fiel ao roteiro e a seus clichês família, salpicando bom humor a ponto de não nos importarmos tanto com os personagens, visto que nada do que acontece parece que vai realmente machucá-los. O artifício continua válido para o púbico infantil, mas já fica mais difícil de engolir para os adultos.
Bons efeitos especiais e o elemento de diversão sempre ajudam, além do que o elenco está correto para o que se propõe. Aliás, o garoto Owen Vaccaro é uma simpatia e só escorrega quando é sabotado pelo roteiro, como por exemplo, na cena em que ele tenta fazer um feitiço com a sua bola de estimação, que quase estraga a (pouca) graça do filme.
A dinâmica e ritmo sempre se mantém consistentes por mais que o roteiro não conte a melhor das histórias e ainda há o desfecho morno, mas o toque de humor mais ajuda que atrapalha.
“O Mistério do Relógio na Parede” é facilmente esquecível, mas tem um público infanto-juvenil cativo que sem dúvida pode se divertir mais.
Curiosidades:
– Há uma cena em que na Sra. Zimmerman diz que no seu auge como feiticeira chegou a derreter o relógio do pintor Salvador Dali no seu bolso. Apesar de não estar explícito, isso significa que essa foi a inspiração para seu famoso quadro “A Persistência da Memória” onde aparecem relógios derretidos.
– Em outra cena o personagem de Jack Black assobia uma ópera de Johan Sebastian Bach. Ele usou essa mesma música em seu outro filme “Uma Dupla Infernal” de 2006.
– O diretor Eli Roth aparece numa participação especial como o Camarada Ivan no programa de TV em preto e branco “Capitão Meia Noite” numa cena. Inclusive a voz do sistema desom do colégio de Lewis também é de Roth.
– Roth é gente boa: mesmo separado da atriz (gata) Lorenza Izzo, ele a colocou como coadjuvante (faz a mãe de Lewis).
– Na cena no início em que Lewis desce do ônibus aparece um cinema passando o filme “Astronauta de Plutão”. Esse é o título da revista que Marty McFly lê em “De Volta Para o Futuro” e que dá pra ele a idéia de se vestir de astronauta para convencer seu pai no passado a dar em cima de sua mãe. Belíssima homenagem ao clássico de Spielberg feita no filme porque ambos foram produzidos pela Amblin, onde um dos donos é o próprio.
– Quando a sra. Zimmerman fala sobre como perdeu a família e sua mágica dá pra ver uma tatuagem discretamente em seu braço, dando a entender que ela foi prisioneira judia na Alemanha de Hitler.
– Aliás, o livre se passa entre 1948 e 1949, enquanto que o filme se passa em 1955 para poder dar um background pós guerra aos personagens.
Ficha Técnica
Elenco:
Jack Black
Cate Blanchett
Owen Vaccaro
Kyle MacLachlan
Renée Elise Goldsberry
Colleen Camp
Sunny Suljic
Lorenza Izzo
Braxton Bjerken
Vanessa Anne Williams
Ricky Muse
Charles Green
De’Jon Watts
Direção:
Eli Roth
Produção:
Bradley J. Fischer
Eric Kripke
James Vanderbilt
Fotografia:
Rogier Stoffers
Trilha Sonora:
Nathan Barr