Não sei se “Nomadland” vai ganhar o Oscar (acabou de ganhar o Globo de Ouro). Mas se ganhar, sei o motivo.
O filme conta a história que é uma jornada pessoal de milhares de pessoas numa abordagem quase documental, sobre como o abismo social americano provoca mudanças culturais e cria um estilo de vida: o nômade sobre rodas.
Frances McDormand de “Três Anúncios Para Um Crime” é Fern. Mas podia ser qualquer um que se viu despido da sua dignidade depois da grande depressão da década de 2010 quando fábricas americanas fecharam e deixaram milhares desabrigados. Podia ser qualquer um e podia ser todos. Ela então cruza o oeste americano de trabalho em trabalho, parando em comunidades, conhecendo pessoas e vivendo um dia de cada vez, sendo que algumas pessoas criarão laços mais profundos na sua personalidade.
A diretora Chloé Zhao, já vencedora do Globo de Ouro pela obra, imprimiu um estilo documental onde Frances McDormand realmente encarnou esse estilo de vida por quase 6 meses e muitas vezes era confundida como mais um membro da comunidade onde estava, chegando a dormir em sua van e a passar dias trabalhando nos estabelecimentos como empregada. Dessa forma a direção exibe uma fluidez constante mesmo que não haja tantos diálogos. Ao invés disso, a obra exala uma autêntica dinâmica de vida entre pessoas – até porque de artistas de verdade, foram praticamente só dois, sendo os demais gente real com seus dramas reais.
Apesar de Fern ter uma história bem definida, é do coletivo que o espectador sente, da constante busca por um sentido de vida que talvez não exista. E é nesse ponto que a produção toca a todos, pois independente da classe social, credo e tudo que nos diferencia, a busca pelo sentido da vida é sempre uma constante.
A retratação das estradas americanas pelo fotógrafo Joshua James Richards é divina e ainda há a trilha sonora não intrusiva de Ludovico Einaudi (“Samba“) que sempre entra certo e para emocionar.
“Nomadland” pode chegar no âmago de questionar àqueles que souberem apreciá-lo, sobre tudo o que foi escrito e sobre o que te faz feliz. Por isso que ele pode ser um filme, um documentário, uma palestra, uma jornada ou ainda várias. Imperdível.
Curiosidades:
– A história de background de Fern sobre a falência da empresa Empire é verdadeira.
– A filmagem ocorreu em 7 Estados dos EUA e em muitas comunidades, pensavam que Frances McDormand era uma pessoa qualquer que estava sendo documentada. Numa cena com Bob Wells (uma espécie de mentor dessas comunidades), ao terminar de contar sua história como Fern, Bob se emocionou e quando cortou a cena, ela revelou que era tudo ficção e que ela era uma atriz.
– A Van de Fern foi decorada com objetos pessoas de Frances McDormand e foi dela a idéia de chamar sua van de Vanguarda.
– Frances McDormand começou as filmagens dormindo na própria van, mas depois de algumas semanas, desistiu alegando que era mais fácil fingir que estava cansada do que estar cansada realmente.
– Há uma cena em que Fern passa por um cinema em que está passando “Os Vingadores”. Isso é porque a diretora Chloé Zhao já tinha assinado para dirigir seu próximo filme “Os Eternos” do universo Marvel.
– Frances McDormand aparece em TODAS AS CENAS.
– O único outro ator de verdade que contracena com a protagonista é David Strathairn de “Poderes Extraordinários” Quem interpreta o filho do personagem dele é o filho real de David Strathairn, Tay Strathairn.
Ficha Técnica
Elenco:
Frances McDormand
David Strathairn
Tay Strathairn
Linda May
Swankie
Bob Wells
Direção:
Chloé Zhao
Produção:
Frances McDormand
Peter Spears
Dan Janvey
Chloé Zhao
Mollye Asher
Fotografia:
Joshua James Richards
Trilha Sonora:
Ludovico Einaudi