Monster

Monster” foi um dos grandes esquecidos das premiações de cinema. Ele deveria ganhar várias só por falar de tantos assuntos difíceis, mas de uma maneira tão profunda e detalhista que chega a ser arrebatador.

Fala de família, de amor, de opressão, da infância, da perda, da morte. Inclusive fala sobre a banalidade do mal (há uma cena emblemática num supermercado) e da crescente falta de empatia entre as pessoas. Caber tudo num só filme sem ser raso em absolutamente nada é uma proeza para poucos.

Tudo começa quando uma mãe, Saori (Sakura Ando de “Godzilla Minus One”) desconfia que seu filho Minato (Soya Kurokawa) está sofrendo assédio moral e agressão de um de seus professores do colégio, Hori (Eita Nagayama), e daí parte para cima da direção da escola. Só que esse evento passa a ser visto sob a perspectiva de outros personagens e vão apontando direções completamente diferentes montando um complexo quebra-cabeças emocional entre os envolvidos.

O roteiro é tão enxuto que cada segundo conta. Cada barulho conta. Cada palavra dita conta. Cada olhar conta. E até o silêncio conta. O diretor Kore-eda Hirokazu conseguiu colocar as mesmas cenas sem gordura e sem ficar mimando o espectador explicando duas vezes a mesma coisa e faz uma dinâmica brilhante em sua edição, como por exemplo numa cena em que um personagem contempla o horizonte num telhado e a trilha sonora começa com acordes distorcidos, para depois sabermos que esses acordes fazem parte de uma outra cena num lugar diferente que se passa ao mesmo tempo.

Outra vitória importante foi contextualizar fortes sentimentos numa cultura introvertida como a japonesa, principalmente na amizade entre Minato e seu amiguinho Yori (Hinata Hiiragi), onde mora o cerne da história. As analogias do “cérebro de porco”, da doença e da opressão paterna de um, contrastando com a ausência paterna do outro se torna quase um poema audiovisual que consegue levar o espectador a um desfecho edificante sem recair no lugar comum.

Mais interessante ainda são os diversos significados que a palavra “Monster” (mostro) assume ao longo do filme, sendo que nenhuma delas tem a conotação original do substantivo. A rima narrativa entre a auto descoberta e o jogo de criança “Que monstro eu sou?” é sensacional.

Monster” é um dos filmes mais bonitos e brilhantes feitos em 2023 e explora temas tão polêmicos com uma leveza e inteligência surpreendentes.

Curiosidades:

  • O ator mirim Hinata Hiiragi tem fobia a insetos e de vez em quando estragava cenas que se passavam no vagão no maio da mata por fugir de algum inseto entrando na tomada.
  • A atriz Yuko Tanaka que interpreta a diretora da escola praticou trombeta por meses para fazer uma cena onde ela toca por menos de 5 segundos.
  • Os atores mirins passaram 6 meses antes das filmagens criando laços através de brincadeiras e fazendo refeições juntos.

Ficha Técnica:

Elenco:
Sakura Andô
Eita Nagayama
Soya Kurokawa
Hinata Hiiragi
Mitsuki Takahata
Akihiro Kakuta
Shidô Nakamura
Yûko Tanaka

Direção:
Kore-eda Hirokazu

História e Roteiro:
Yûji Sakamoto

Produção:
Megumi Banse
Minami Ichikawa
Taichi Itô
Ryo Ota
Hijiri Taguchi
Kiyoshi Taguchi
Hajime Ushioda
Kenji Yamada
Tatsumi Yoda

Fotografia:
Ryûto Kondô

Trilha Sonora:
Ryuichi Sakamoto

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