Apesar de bom, o primeiro “John Wick” se debatia entre um universo pouco explorado pelo roteiro – o dos assassinos – onde só vimos um pouco (como o hotel) e a realidade, onde o cruzamento dos dois nem sempre fazia sentido e até mesmo com um senso de humor um pouco duvidoso, apesar da ação muito bem coreografada e desenfreada. O segundo capítulo dessa trilogia (sim, é uma trilogia… por enquanto) consegue consertar todos esses problemas de forma inusitada porque abraça justamente essa fantasia distópica que é o universo dos assassinos.
Keanu Reeves retorna como Wick no seu melhor estilo – falando pouco e fazendo muito – cinco dias após o fim do filme antecessor, e se vê às voltas com seu passado quando o misterioso chefe da máfia italiana Santino (Riccardo Scamarcio de “Pegando Fogo”) ordena que John mate a irmã dele que está ocupando uma cadeira no conselho que rege as leis dos assassinos. E John tem que cumprir essa obrigação para deixar de vez sua vida pregressa, visto que ele acabara de sair da aposentadoria por causa de seu cachorro e seu carro na primeira parte. Obviamente Wick acaba numa cilada, passando a ser perseguido por vários matadores de aluguel e deve usar todo seu conhecimento para sair dessa e acabar com Santino.
O diretor Chad Stahelski também retorna à cadeira e cria um mundo à parte ou uma realidade paralela onde não só assassinos, mas funcionários trabalham em prol da manutenção desse próprio mundo análogo ao que é visto, por exemplo na saga “Animais Fantásticos” ou “Harry Potter” onde existem os mágicos e a realidade com os trouxas ou os no-majs. E logo se vê que é algo fantasioso pelas bugigangas retrô que vão desde telefones antigos, apelada, pergaminhos e carimbos até computadores que remontam aqueles primeiros no fim dos anos 80. Lógico que isso contrasta com as armas mais modernas e letais que o dinheiro pode comprar. Falando em dinheiro, esse mundo tem até uma moeda própria.
Por mais absurdo que possa ser o contexto, roteiro e diretor o fazem e expandem com consistência surpreendente a ainda uma pitada de crítica social, quando algumas cenas de luta tomam cena em locais públicos onde as pessoas se não notam, simplesmente fogem sem tomar maiores providências, o que detona a própria banalização pelo próximo. O que poderia ser ridículo em vários filmes do gênero, aqui toma um contorno totalmente aderente à narrativa.
Simples em sua execução, vemos Reeves detonando várias pessoas que se interpõe em seu caminho para realizar a missão e depois pegar quem o traiu, com efeitos especiais que tornam a violência deliciosamente explícita com banhos de sangue num ritmo alucinante. E de presente ganhamos um revival digno de uma falha na Matrix: o encontro de Neo e Morpheus ou Keanu Reeves e Laurence Fishburne (tem no trailer, portanto não é spoiler) é simplesmente sensacional com diálogos que claramente são homenagens que os fãs de “Matrix” vão pirar.
Finalmente seu desfecho que abre a porta para a terceira parte é ao mesmo tempo seco e épico dentro desse submundo em que John Wick vive. Aliás, “John Wick” é tudo o que “Jack Reacher” poderia ter sido, não fosse a frescura de Tom Cruise. Ação de primeiríssima linha imperdível.
Curiosidades:
– O diretor Chad Stahelski começou sua carreira em Hollywood como dublê. Sabe de que filme? Matrix!
– Quando a assassina linda interpretada por Ruby Rose (“XXX: Reativado”) fala na linguagem de sinais para John Wick “Nos veremos novamente”, ela termina fazendo o sinal do número 3, que é uma possível prévia do que virá na terceira parte.
Ficha Técnica
Elenco:
Keanu Reeves
Riccardo Scamarcio
Ian McShane
Ruby Rose
Common
Claudia Gerini
Lance Reddick
Laurence Fishburne
Tobias Segal
John Leguizamo
Bridget Moynahan
Thomas Sadoski
Erik Frandsen
David Patrick Kelly
Perry Yung
Direção:
Chad Stahelski
Produção:
Basil Iwanyk
Erica Lee
Fotografia:
Dan Laustsen
Trilha Sonora:
Tyler Bates
Joel J. Richard
