Os irmãos Philippou são os criadores de uma série australiana de comédia trash que passa no YouTube chamada RackaRacka (veja aqui) e acabaram de fazer talvez o melhor filme de terror do ano.
Ele preenche todo o chcklist do que um filme de terror deveria ter e deixa de fora tudo o que não deveria ter, mas que muitos filmes têm de teimosos.
Tem pouquíssimo humor, muita crítica social e terror de primeira qualidade com efeitos especiais muito mais baseados em truques de câmera ou efeitos mecânicos e maquiagem do que em CGI.
A estreante Sophie Wilde (vocês vão ouvir falar bastante dela) é Mia, que deprimida com a morte da mãe há alguns anos, aceita participar de um jogo “espírita” onde uma espécie de mão embalsamada leva a pessoa ao mundo dos mortos e, da mesma forma, traz algum espírito de lá para cá, possuindo o hospedeiro. Ela e seus amigos começam a tomar gosto pela sensação de “barato” que dá, até que numa das sessões, algo dá errado e os espíritos não querem mais ir embora.
Há uma importante crítica social sobre o uso de drogas e a cultura do celular: as tais sessões espíritas são dispostas como o compartilhamento de agulhas com metanfetamina e os efeitos que produzem nos personagens se aproximam bastante do que as drogas alucinógenas fazem.
Além disso, a questão dessa geração “always online” tudo estar sempre sendo postado nas redes sociais independente da gravidade de uma situação onde se poderia estar ajudando é explorada principalmente no primeiro ato.
Os personagens conseguem o mínimo de desenvolvimento para nos importarmos com eles e com as relações que eles têm entre si. Até o pouco humor provocado pela mãe de um dos jovens no início (Miranda Otto de “Annabelle 2”, a mais conhecida do elenco) faz parte dessa construção que vai ecoar em eventos cruciais mais tarde.
Finalmente chegamos ao terror, a melhor parte, a mais gratificante, primeiro porque é consistente, pois cria regras para si mesmo sem apelar para reviravoltas que não estão dentro do contexto.
Segundo que assusta de verdade sem precisar daqueles artifícios tão batidos com pancadas de som para fazer o público pular da cadeira. Tudo são nuances, cortes certeiros, jogadas de câmera, e até mesmo uma ótima cena no escuro inspirada que começa a ser tendência desde “Hereditário”. O desenvolvimento faz com que nenhum dos personagens esteja seguro e o espectador nunca tem a certeza de quem vai viver ou morrer.
“Fale Comigo” é o terror que todos estavam esperando, sério, assustador, mas principalmente consistente e com conteúdo. Imperdível.
Curiosidade:
Foram feitas 6 mãos embalsamadas iguais em caso que alguma se perdesse ou se danificasse. O diretor Danny Philippou ficou com uma para decorar a sua casa.
Ficha Técnica:
Elenco:
Sophie Wilde
Alexandra Jensen
Joe Bird
Miranda Otto
Otis Dhanji
Ari McCarthy
Hamish Phillips
Kit Erhart-Bruce
Sarah Brokensha
Jayden Davison
Sunny Johnson
Marcus Johnson
Kidaan Zelleke
James Oliver
Jett Gazley
Zoe Terakes
Chris Alosio
Direção:
Danny Philippou
Michael Philippou
História e Roteiro:
Danny Philippou
Bill Hinzman
Daley Pearson
Produção:
Kristina Ceyton
Samantha Jennings
Fotografia:
Aaron McLisky
Trilha Sonora:
Cornel Wilczek