A geração que cresceu nos anos 80 e 90, principalmente homens, inevitavelmente se depararam e curtiram nas noites da TV Bandeirantes e Manchete principalmente, o clássico erótico “Emmanuelle” de 1974 estrelado por Sylvia Kristel que, junto com a “História de O”, outro clássico do mesmo gênero no ano seguinte, definiram alguns dos pilares de sexualidade dos adolescentes da época.
O que poucos sabem é que, desde a obra original, livro da autora Emmanuelle Arsan, a franquia foi constituída de 4 filmes para cinema, 3 filmes para TV referência em livros, sendo a atriz principal protagonista, coadjuvante ou narradora dessas produções até o início dos anos 90. Todos os filmes tem histórias de fundo, mas que em sua essência descrevem uma jornada de descoberta sexual da protagonista.
50 anos depois do início da franquia, estamos vendo uma reimaginação onde somente a personagem e a essência de descoberta sexual permanecem, agora com a coroa na cabeça da charmosíssima Noémie Merlant do premiado “Tär”.
Emmanuelle é uma consultora de controle de qualidade de uma rede de hotelaria que vai para Hong Kong avaliar um hotel de luxo e lá inicia uma jornada de autodescoberta, seja sexual, seja das amarras que a prendem como profissional e como pessoa.
Merlant contruiu muito bem sua personagem como uma mulher austera e vulnerável ao mesmo tempo, que exala sexualidade sem ser uma caricatura, mas que também exibe uma certa insegurança de sua própria figura, a qual é projetada no desejo dos outros.
O problema do roteiro é o resto: na ânsia de ser mais que veículo de uma história de luxúria e prazer, ele quis abraçar o empoderamento profissional e até mesmo uma crítica social sobre a luta de classes. Acabou sendo muito.
É possível ver claramente como todos os elementos são colocados no caldeirão da história de forma desajeitada, atrapalhando muito mais a jornada de Emmanuelle, ao ponto de se ter personagens e diálogos que não levam a nada (a tal lenda de Fenwick, o tal produtor de comerciais), o que dilui tramas e subtramas que seriam muito boas se melhor focadas, como a da gerente do hotel, interpretada por Naomi Watts (“Ofelia”).
A cenas de nudez são muito boas mostrando para valer sem serem vulgares demais, mas por outro lado, falta contexto. O final abrupto então chega até a dar raiva, mesmo entendendo a mensagem de uma narrativa como o próprio sexo, terminando com um orgasmo.
Não é desculpa para fazer um “Emmanuelle” como uma colcha de retalhos de vários assuntos e pouca profundidade, sendo a sexualidade apenas um deles, tentando defender várias causas que se perdem aos poucos deixando o espectador literalmente na mão.
Curiosidades:
- Sylvia Kristel tinha 21 anos quando filmou “Emmanuelle” em 1974, enquanto Noémie Merlant tinha 35 anos quando fez essa produção.
- O fato de Emmanuelle ter viajado a Hong Kong foi abordado em “Emmanuelle 2” de 1975.
Filmes onde Sylvia Kristel interpretou Emmanuelle:
?? CINEMA
- Emmanuelle (1974) – Dir.: Just Jaeckin ? O original, que a tornou mundialmente famosa.
- Emmanuelle 2: L’antivierge (Emmanuelle, A Antivirgem) (1975) – Dir.: Francis Giacobetti.
- Goodbye Emmanuelle (1977) – Dir.: François Leterrier ? suposta despedida da personagem.
- Emmanuelle 4 (1984) – Dir.: Francis Leroi ? aparece no início como Emmanuelle, mas a personagem passa por uma cirurgia plástica e é interpretada depois por outra atriz (Mia Nygren).
? TELEFILMES E TV
- Emmanuelle 5 (1987) – Dir.: Walerian Borowczyk ? aqui, Kristel aparece em uma participação especial.
- Emmanuelle 6 (1988) – Dir.: Bruno Zincone ? retorno oficial, já com produção de menor orçamento.
- Emmanuelle 7: The Meaning of Love (Emmanuelle au 7ème ciel) (1992) – Dir.: Francis Leroi ? feito para TV; seu último grande papel como Emmanuelle.
Ficha Técnica:
Elenco:
Noémie Merlant
Will Sharpe
Jamie Campbell Bower
Chacha Huang
Anthony Chau-Sang Wong
Naomi Watts
Direção:
Audrey Diwan
História e Roteiro:
Audrey Diwan
Rebecca Zlotowski
Produção:
Brahim Chioua
Laurence Clerc
Reginald de Guillebon
Marion Delord
Audrey Diwan
Vincent Maraval
Victor van der Staay
Edouard Weil
Fotografia:
Laurent Tangy
Trilha Sonora:
Evgueni Galperine
Sacha Galperine