A Viagem (“Cloud Atlas”)

A Viagem” é aquele tipo de filme até que bom, mas por todos os motivos errados. Baseia-se em dois conceitos parecidos, mas numa análise mais aprofundada, bem distintos: o primeiro é de que cada ação pode se refletir através dos tempos, podendo ter um alcance de décadas e séculos. Assim, temos uma viagem de navio em 1849, um drama sobre um compositor na década de 30, uma conspiração dentro de uma usina nuclear na década, uma bem humorada história de um editor internado por engano num asilo, a luta para mudar o sistema numa cidade futurista e o conto sobre uma tribo num mundo pós-apocalíptico… tudo se conectando (e daqui a pouco vamos analisar as tais conexões).

O segundo conceito é que o espírito humano pode evoluir (ou não) em suas diversas encarnações. O que faz com que os irmãos Wachowski de “Matrix” e “Speed Racer” revivam um estilo que Eddie Murphy praticamente inventou quando fez “Um Príncipe em Nova York” em 1988: o de pegar os atores e, através de maquiagem pesadíssima, fazer com que interpretem vários personagens nas diferentes histórias.

O êxito do primeiro conceito é bastante relativo: as conexões nem sempre são imediatas e muitas vezes são claramente manipuladas pelo roteiro, quando podiam ser fruto de mero acaso. Seja pelo símbolo da estrela cadente, pelo diário do advogado no século XIX, pelas cartas de amor do compositor, pelo sexteto que dá o nome à produção ou até mesmo pela figura de um mártir do futuro, ainda assim as histórias soam muito mais independentes do que correlacionadas.

Daí entra o segundo conceito que é a própria extensão do primeiro, ou seja, tem a conexão entre as almas (personagens) como a conexão mestra. Só que da tal evolução pouco se vê, além de alguns personagens óbvios interpretados por Tom Hanks, Halle Berry, Jim Sturgess e a coreana Doona Bae. A conclusão daí é que o filme vira uma espécie de jogo onde o espectador deve achar as superficiais conexões e principalmente descobrir qual artista interpreta determinado personagem. Tanto é que nos créditos finais, fazem questão de responder a essa pergunta. Dessa forma, é muito usual que o espectador confunda esse interessante joguinho com o próprio desempenho do filme. Sem menosprezar a avaliação de cada um, há de se convir que a experiência pode ser boa, mas não que haja conteúdo suficiente nessa longa projeção de quase três horas. Apenas histórias independentes, algumas mais interessantes que outras, conectados por elementos que pouco influem na trama e por artistas cujos personagens podem ou não ter algum tipo de evolução de sua “encarnação” anterior.

O caráter técnico da produção é impecável, visto perfeccionismo dos realizadores e seu budget disponível, a bagatela de cem milhões de dólares. Interessante algumas poucas, rápidas, mas ótimas cenas de violência com efeitos realistas que surpreendem, como talvez a mais bruta cena de queda de um prédio do cinema.

A Viagem” tem um conteúdo igual ou até inferior há muitos exemplares do gênero – leia-se: tramas paralelas que se cruzam ou se conectam – mas vêm numa embalagem de jogo de elementos e artistas que podem até empolgar alguns públicos e despertar a indiferença de outros.

Ficha Técnica

Elenco:
Tom Hanks
Halle Berry
Jim Broadbent
Hugo Weaving
Jim Sturgess
Doona Bae
Ben Whishaw
Keith David
James D’Arcy
Xun Zhou
David Gyasi
Susan Sarandon
Hugh Grant
Robert Fyfe
Martin Wuttke
Robin Morrissey
Brody Nicholas Lee
Ian van Temperley
Amanda Walker
Ralph Riach
Andrew Havill
Tanja de Wendt
Raevan Lee Hanan
Götz Otto
Niall Greig Fulton
Louis Dempsey
Martin Docherty
Alistair Petrie
Zhu Zhu
Sylvestra Le Touzel

Direção:
Tom Tykwer
Andy Wachowski
Lana Wachowski

Produção:
Stefan Arndt
Alex Boden
Grant Hill
Tom Tykwer
Andy Wachowski
Lana Wachowski

Fotografia:
Frank Griebe
John Toll

Trilha Sonora:
Frank Griebe
John Toll

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