A Morte de Stalin (“The Death of Stalin”)

Como fazer uma comédia de humor negro do regime comunista totalitário de Stalin que matou mais de 20 milhões de pessoas na União Soviética sem deixar de passar a seriedade da mensagem histórica? Só o fato de a resposta ser essa produção com um ótimo elenco já a eleva a outro patamar. Mais ainda é entender (veja nas curiosidades) que, apesar do humor, as coisas foram mais desconcertantes que as mostradas no filme.

Quando Stalin morre de derrame, toda a sua cúpula começa a se mexer para querer tomar o poder. E a história é justamente sobre os dias que seguem à sua morte e de uma maneira muito bem humorada, mostrar o comportamento grotesco que tanto políticos e povo assumiam sem levar em consideração a vida de ninguém.

Os eventos conduzidos pelo diretor escocês Armando Iannucci dão ao mesmo tempo uma sensação de aflição e humor ao espectador (o famoso jargão “rindo de nervoso”), enquanto o timing cômico dos artistas é impecável: Steve Buscemi (“O Halloween do Hubie”) rouba todas as cenas como o principal ministro do conchavo para a sucessão, podendo mostrar sua veia para a comédia e o drama e todas as canadas entre um gênero e outro; Simon Russell Beale (“Operação Final”) está ameaçador como o braço direito de Stalin e principal conspirador; Jason Isaacs (“Atentado no Hotel Taj Mahal”) está hilário como o arrogante líder do exército russo; enquanto Jeffrey Tambor (“O Contador”) tem ótimos diálogos como o borra-botas vice de Stalin (a cena do “Não tem problema / Não, tem problema” é sensacional).

Ainda assim, as atrocidades são mostradas sem cortes e sem medo de atrapalhar o humor e talvez por isso mesmo dê um tom tão peculiar a essa obra que, aliás, foi banida da Rússia.

A Morte de Stalin” é um filme obrigatório para quem entende um pouco de história e tem uma abordagem humorística e politicamente incorreta sem tirar o dedo da ferida que merece ser muito bem apreciada.

Curiosidades:

– Algumas cenas que podem ser tidas como absurdas foram amenizadas para que o público pudesse acreditar. Ou seja, na realidade foi ainda mais desconcertante:
–> Na cena da orquestra logo no início foi algo que realmente aconteceu, só que fora alguns anos antes. E foi ainda mais absurdo: tiveram que usar 3 maestros porque um deles ainda estava bêbado (no filme são 2).
–> O uniforme do personagem de Jason Isaacs é repleto de medalhas, mas tem menos medalhas do que o verdadeiro líder do exército russo.
–> A cena do derrame aconteceu exatamente daquele jeito onde como os guardas não se atreviam a entrar no quarto de Stalin, pois ele deixara expressas ordens de não incomodar, acabaram não indo investigar quando ele entrou em colapso.
– O diretor tomou a decisão de não dar sotaque russo a nenhum dos artistas deixando cada um falar do seu jeito. Decisão essa que se mostrou acertada para a fluência do filme.
– Jason Isaacs quis que seu personagem tivesse uma cicatriz no rosto para demonstrar seu histórico de guerra. O verdadeiro líder do exército russo nunca teve uma cicatriz no rosto.
– O braço direito de Stalin, Beria (Simon Russell Beale) era conhecido como um predador sexual e pedófilo. Depois que estuprava suas vítimas dava um buquê de flores para ela. Se ela aceitasse, a mensagem era de que foi consensual; se não aceitasse, ela era posteriormente perseguida e executada. Inclusive em 1993, engenheiros descobriram esqueletos de crianças e adolescentes enterrados no terreno onde era a casa de Beria.
– O alcoolismo do filho de Stalin, Vasili (Rupert Friend de “No Portal da Eternidade”) é bem retratado no filme e é a causa de sua morte prematura aos 40 anos.
– Há uma cena em que a filha de Stalin, Svetlana (Andrea Riseborough de “O Grito”) diz que se continuar assim ela vai dar um tiro em sua cabeça que nem sua mãe. Isso ´r porque sua mãe se matou com um tiro na cabeça depois de uma briga com Stalin.
– Nos créditos finais, aparecem fotos dos atores sendo editadas com seus rostos apagados. Isso porque era uma prática da União Soviética adulterar fotos para manipular a opinião pública.
– Estima-se o número de mortos durante o regime Stalinista entre 20 a 40 milhões de pessoas.
– O diretor Armando Iannucci aparece de figurante como um dos espectadores da orquestra aos 3:33 minutos.
– O médico mais novo que cuida de Stalin é interpretado pelo filho do diretor Armando Iannucci.

Ficha Técnica

Elenco:
Steve Buscemi
Jeffrey Tambor
Adrian McLoughlin
Simon Russell Beale
Michael Palin
Olga Kurylenko
Jason Isaacs
Andrea Riseborough
Rupert Friend
Paddy Considine
Tom Brooke
June Watson
David Crow
Dermot Crowley
Paul Whitehouse
Paul Chahidi
Richard Brake
Jonathan Aris
Ewan Bailey

Direção:
Armando Iannucci

Produção:
Kevin Loader
Yann Zenou
Nicolas Duval Adassovsky
Laurent Zeitoun
Catherine Dumonceaux
Tanya Sokolova

Fotografia:
Zac Nicholson

Trilha Sonora:
Christopher Willis

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