Star Trek: Sem Fronteiras (“Star Trek Beyond”)

O reboot de “Star Trek” dirigido por J.J. Abrams e sua continuação “Além da Escuridão”, conseguiu não só voltar na linha do tempo sem negar toda a sua história que remonta da longínqua série televisiva de 1966, como também subverter vários de seus elementos, indo num novo e interessante rumo.

Já “Star Trek: Sem Fronteiras” agora dirigido por Justin Lin (da franquia “Velozes e Furiosos”) continua na mesma linha temporal, mas também funciona como um retorno à velha e boa forma da Enterprise e mesmo com alguns furos de roteiro monumentais, consegue um bom resultado.

E a velha forma é o que vemos quando nos deparamos com Capitão Kirk (Chris Pine) e o time da Enterprise na sua missão de explorar o espaço para encontrar novas formas de vida e caminhar em paz junto à Federação Estrelar, onde há 966 dias na sua missão, ele a classifica como episódica numa clara analogia aos episódios das séries de TV, ao mesmo tempo em que repele essa mesma idéia. Respondendo a um chamado de socorro, eles caem numa armadilha e ficam presos num planeta rochoso e escravos do misterioso Krall (Idris Elba de “Beats Of No Nation” debaixo de muita maquiagem) que busca um artefato que pode causa danos irreparáveis para a humanidade.

Por um lado, o roteiro é muito inteligente ao estabelecer a história do vilão e suas motivações, as quais começam primitivas e simplórias, mas depois se tornam complexas e – porque não – emocionantes. Os fãs vão delirar com a quantidade de homenagens que se faz a série original e a todas as outras derivadas. Inclusive há uma foto no desfecho que deve deixar lágrimas. Claro, há também a menção à morte do virtuoso Leonard Nimoy, o verdadeiro Dr. Spock e mentor de Zachary Quinto, o herdeiro e atual filho de Vulcano.

Os problemas começam quando a história tenta deixar de lado aspectos óbvios e quase gritantes: uma frota de milhões de naves individuais é pilotada pelos alienígenas vilões. Estes milhões de aliens simplesmente desaparecem no planeta e não funcionam nem como exército ou vigilantes nem nada. Chega a ser ridículo o plano de escapar dos nossos heróis onde eles lidam com no máximo uns dez guardas, se muito. Eles só reaparecem quando as naves entram em combate, o que deixa tudo muito ilógico. Mais ainda: se fizermos um retrospecto da história após o fim do filme, pois em momento algum explica como Krall conseguiu recrutar esses milhões de soldados. Outra história mal contada é a do artefato, motivo de toda a celeuma que também os realizadores não depositam a menor preocupação de esclarecer.

A direção de Lin é cheia de acertos e erros: ele acerta em manter uma ação desenfreada sem prejuízo da história, mas sua execução muitas vezes é confusa, escura e o espectador terá dificuldade de entender a geografia do que está acontecendo ou como a interação entre os personagens funciona nessas cenas. Ele também exagerou nos travellings: se na primeira vez, ao mostrar a cavalar estação interplanetária e cidade Yorktown, sua câmera transpassa os diversos ambientes com uma fluidez sensacional, ele repete o mesmo recurso à exaustão sem o mesmo sucesso e muitas vezes mais atrapalhando do que ajudando. Os efeitos especiais também tem seus momentos espetaculares (a maioria), mas algumas vergonhas alheias como a cena da moto indo ao encontro do complexo de Krall e a própria cenografia dele que, por não ser em CGI e de certa forma desleixada, contrasta com todo o resto mostrado.

O que ajuda mesmo é o elenco mais afiado do que nunca, com ótimo timing cômico e com mais espaço para os coadjuvantes e uma humanidade maior a eles. “Star Trek: Sem Fronteiras” se preocupa menos com detalhes que deveriam ser importantes, mas estão de olho nos fãs incontestes, na ação sem pausa, na química do elenco e em um ótimo vilão tridimensional.

Curiosidades:

– Ao chegar em Yorktown, após o travelling, a câmera faz um rápido close num menininho verde. É o filho do diretor Justin Lin.
– O filme retrata o Sr. Sulu como gay numa homenagem a George Takei, intérprete original que, na vida real é ativista em prol dos direitos GLBT. Entretanto originalmente Sulu não era gay e o próprio Takei expressou seu descontentamento em entrevistas, porque o roteiro distorceu o personagem.
– Há uma cena no último ato que envolve uma música alta. A música é Sabotage dos Beastie Boys. Primeiro detalhe: ela toca no primeiro Star Trek, reboot de 2009. E segundo: os Beastie Boys são fãs de Star Trek e um de seus grandes sucessos, Intergalatic, tem um verso dedicado ao Dr. Spock.
– No final, quando Kirk faz um brinde aos amigos ausentes, a câmera dá um rápido close em Chekov, interpretado por Anton Yelchin que morreu poucos meses antes do filme estrear num acidente de carro ainda inexplicável, aos 27 anos.
– A alienígena mocinha Jaylah se chama assim porque os roteiristas acharam que ela tinha a força que a atriz Jennifer Lawrence passou no filme O Inverno da Alma. Daí veio a contração J-Law até chegar na escrita final Jaylah.
– O diretor de efeitos especiais coincidentemente se chama James Kirk.
– Este filme foi lançado 50 anos após o primeiro episódio da série pioneira Jornada nas Estrelas ir ao ar.

Ficha Técnica

Elenco:
Chris Pine
Zachary Quinto
Karl Urban
Zoe Saldana
Simon Pegg
John Cho
Anton Yelchin
Idris Elba
Sofia Boutella
Joe Taslim
Lydia Wilson
Deep Roy
Melissa Roxburgh
Anita Brown
Doug Jung

Direção:
Justin Lin

Produção:
J.J. Abrams
Roberto Orci

Fotografia:
Stephen F. Windon

Trilha Sonora:
Michael Giacchino

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