A adaptação de 2016 para o clássico livro de Lee Wallace, cuja a mais famosa transposição para o cinema foi feita em 1959 com Charlton Heston e suas quase quatro horas de duração, é um filmaço se considerarmos os desdobramentos da história como um elemento secundário (o que não é).
O diretor Timur Bekmambetov (“Abrahan Lincoln – Caçador de Vampiros“) sem dúvida nos trás uma experiência visual única ao contar a história de Judah Ben-Hur (Jack Huston de “Orgulho e Preconceito e Zumbis”), judeu de família abastada de Jerusalém cujo irmão postiço Messala (Toby Kebbell de “Warcraft”) parte para Roma para tentar se encontrar e volta anos depois como capitão do exército responsável por limpar a área de rebeldes (conhecidos como Zelotes).
Quando ocorre um incidente que fere orgulho de Roma, Ben-Hur é incriminado, Messala se sente traído e manda matar sua família e escravizar. Anos depois num acidente com uma galera da frota romana em guerra com a Grécia (talvez a cena mais espetacular do filme), Ben-Hur foge, encontra o mentor Ilderin (o nosso Morgan Freeman de sempre e de “Truque de Mestre”) e jura vingança contra Messala.
A produção é visualmente impecável, tem sequencias de cair o queixo – já dei um exemplo acima – como também a própria corrida de bigas no último ato. O diretor faz a escolha correta em manter a câmera próxima dos atores em momentos de tensão e muitas vezes transformá-la em primeira pessoa, usando o recurso POC (pra quem não sabe Timur Bekmambetov foi o mentor e produtor do sensacional “Hardcore: Missão Extrema”), sendo que também não se furta a mostrar aéreas com as épicas construções em CGI transbordando realidade.
Já na construção e definição da narrativa ocorrem sérios problemas: partindo do princípio que o clássico de 1959 tinha quase quatro horas e este tem duas já se entende que talvez momentos relevantes para a trama tivessem que ser cortados. Mas isso afetou bastante o desenvolvimento da história. A subtrama que envolve Jesus (sim, o nosso Rodrigo Santoro) parece ter durante o primeiro e segundo atos, relevância mínima além de tão somente situar o contexto histórico, isto é, sem ele praticamente nada mudaria. A narração de Morgan Freeman no início e final da obra soa esquisita, pois ele é um personagem cujo inteligência parece se demonstrar de forma limitada em sua especialidade (corrida de bigas), mas ele narra como se fosse o Deus de “O Todo Poderoso”).
Finalmente chegamos no terceiro ato, mais precisamente após a derradeira corrida, onde a limitação do tempo fez sua grande vítima, a coesão. Tudo se resolve tão rápido que o espectador terá certa dificuldade para acompanhar os desdobramentos que nem encontram tempo na tela para acontecerem. Se a redenção de certos personagens acontecem quase como num passe de mágica, há uma cena em particular onde ocorre um milagre (e parece ser o único momento onde Jesus entra pra valer) que é feita tão nas pressas que quando a locução fala em milagre, a cena já acabara há segundos numa dessincronização que detona a falha gritante no momento da edição.
E quem foi o maluco que escolheu aquela música medíocre nos créditos finais? Parecia que eu estava vendo o desfecho de “Crepúsculo”. Com certeza não foi Marco Beltrami (“Águas Rasas”), cuja trilha se mantém orgânica à narrativa. Essa foi uma das piores escolhas de seus realizadores.
“Ben-Hur” se firma como superprodução épica de 2016, visualmente deslumbrante, vale o ingresso, mas a comparação com o clássico de 1959 continua sendo desleal, com erros que acima de tudo poderiam ser facilmente evitados.
Ficha Técnica
Elenco:
Jack Huston
Toby Kebbell
Morgan Freeman
Rodrigo Santoro
Nazanin Boniadi
Ayelet Zurer
Pilou Asbæk
Sofia Black-D’Elia
Marwan Kenzari
Moises Arias
James Cosmo
Haluk Bilginer
David Walmsley
Yasen Atour
Francesco Scianna
Direção:
Timur Bekmambetov
Produção:
Mark Burnett
Sean Daniel
Duncan Henderson
Joni Levin
Fotografia:
Oliver Wood
Trilha Sonora:
Marco Beltrami