https://www.youtube.com/watch?v=R0aKPegDWHY
Geralmente costumo colocar as curiosidades sobre o filme (quando existe alguma relevante) ao final da crítica. Dessa vez vou precisar quebrar o protocolo. A curiosidade é que essa é a primeira vez que o diretor Adam McKay faz um filme para cinema que não é com o comediante Will Ferrell. Quer dizer que sua experiência no cinema se resume a boas comédias como “Tudo Por um Furo” ou “Os Outros Caras”. Então é uma surpresa que seu primeiro filme “sério” (entre aspas mesmo) seja candidato aos principais Oscars. Mais surpresa ainda é que ele conseguiu isso utilizando justamente os elementos cômicos que aprendeu tão bem nos seus projetos passados.
A produção conta a história da crise financeira americana que começou em 2007 (cujos efeitos no Brasil se estendem até o presente momento) por conta do estouro da bolha imobiliária. E fala justamente das poucas pessoas que viram a crise chegando quando ninguém mais observava e acabaram lucrando com isso.
Basicamente a narrativa se concentra em três núcleos: o primeiro formado por Christian Bale (“Êxodo: Deus e Reis”) como Michael, dono de um fundo de investimento com uma imensa facilidade com números e o primeiro a perceber a tendência de crise, apostando contra os bancos. Depois há o núcleo formado por Ryan Gosling (“Apenas Deus Perdoa”) como o banqueiro Jared que convence o intempestivo investidor Mark Baum (Steve Carell de “O Verão da Minha Vida”) a conhecer o mercado imobiliário para apostar contra os títulos de risco; e finalmente aquele formado por Brad Pitt (“Corações de Ferro”) como o mentor de dois jovens investidores que também seguiram a cartilha de Jared.
A sacada do roteiro é que ele fala sobre um assunto que a grande maioria do público, neófito, não conhece absolutamente nada a respeito. E daí ele se utiliza de artifícios que, além de genais, dão a dinâmica e o humor que o filme precisa: o filme é narrado pelos próprios personagens, principalmente Jared (Gosling) que trata de colocar os eventos na linha do tempo e fazer as devidas apresentações. Melhor ainda, os conceitos financeiros são explicados de forma bastante acessível em esquetes que aparecem desde um famoso chef, até a cantora Selena Gomez e a atriz Margot Robbie (nua numa banheira de espuma). Só que a jogada é explicar o suficiente para o espectador entender o básico, mas nunca ter uma visão detalhada e total para que, ainda assim, não saiba exatamente se os personagens estão ganhando ou perdendo dinheiro. Por isso, logo ao final, chega a ser uma surpresa quando Michael escreve no quadro de sua empresa o quanto ele ganhou ou perdeu com as operações que fez.
Tão intrigante quanto é que o diretor subverte aquele conceito da glamourização de filmes baseados em fatos reais. Por exemplo, quando após uma cena, o personagem se vira pra câmera e nos diz que não foi assim que aconteceu e daí conta rapidamente a história real para entendermos que a cena fica mais interessante quando foge da realidade. Finalmente o grande mérito do governo é incitar a discussão de como uma crise que pode por tantos em desgraça financeira também consegue beneficiar uns poucos, mesmo que estes não tenham sido responsáveis pela crise em si, o que consegue afetar praticamente todos os personagens.
E falando neles, Christian Bale está magnífico na sua personificação de alguém com uma inteligência muito acima da média, mas com uma capacidade social extremamente limitada. Até sua língua presa fica mais acentuada propositalmente para denotar uma falsa vulnerabilidade. Enquanto isso Steve Carrell dá mais um show provando sua versatilidade com um homem obsessivo e perturbado, mas que consegue passar até um certo humor na sua loucura. Das estrelas, somente Brad Pitt fica meio num papel eu não teve o brilho esperado.
Baseando no livro homônimo do mesmo autor de “O Homem que Mudou o Jogo”, “A Grande Aposta” mostra que o diretor Adam McKay ainda tem muito a mostrar e surpreender, pois conseguiu falar de um assunto sério com um bom humor que nunca tira a perspectiva e com os fins justificando os meios. Peculiar no melhor dos sentidos.
Curiosidade: Há uma cena em que aparece um viaduto e atrás dele um outdoor grande com o ator Martin Short. Ou seja um “Big Short” (em inglês) que é o nome original do filme.
Ficha Técnica
Elenco:
Ryan Gosling
Christian Bale
Steve Carell
Brad Pitt
John Magaro
Finn Wittrock
Marisa Tomei
Rafe Spall
Hamish Linklater
Jeremy Strong
Jeffry Griffin
Melissa Leo
Byron Mann
Tracy Letts
Vanessa Cloke
Margot Robbie
Selena Gomez
Direção:
Adam McKay
Produção:
Dede Gardner
Jeremy Kleiner
Arnon Milchan
Brad Pitt
Fotografia:
Barry Ackroyd
Trilha Sonora:
Nicholas Britell